31% dos brasileiros têm vulnerabilidade crítica a eventos climáticos, e 13% tem baixa vulnerabilidade

89% enfrentaram ondas de calor extremo nas últimas semanas, e 50% testemunharam enchentes e alagamentos em suas cidades

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A maioria dos brasileiros conviveu nas últimas semanas com ondas de calor extremo, e metade também presenciou chuvas intensas e tempestades em suas cidades. O nível de preparo para eventos climáticos extremos e as condições presentes nos domicílios que podem intensificar os efeitos desses eventos foram objeto de consulta pelo Datafolha, e os resultados mostram que parcela significativa da população se percebe altamente vulnerável a eles.

Uma parcela de 22% dos brasileiros com 16 anos ou mais tem a casa muito preparada para situações de calor extremo, índice menor do que o de pessoas com casas nada preparadas para esse tipo de situação. Entre os dois grupos, há 45% que tem casa um pouco preparada.

Frente fria derruba a temperatura em São Paulo, trazendo chuva para este domingo (19). Movimentação de pessoas na Avenida Paulista, região centro-sul da cidade de São Paulo -SP. - Edi Sousa/Ato Press/Agência O Globo

Entre os mais pobres, com renda familiar de até 2 salários, 39% dizem morar em casas nada preparadas para o calor extremo, índice que cai para 25% na parcela com renda de 2 a 5 salários, para 17% na faixa de 5 a 10 salários, e para 10% entre os mais ricos, com renda superior a 10 salários.

Na avaliação do nível de preparo para chuvas intensas ou tempestades, 31% dizem morar em casas muito preparadas para esse tipo de situação, enquanto 26% habitam lares nada preparado. Há ainda 41% que declaram morar em casas um pouco preparadas para enfrentar chuvas e tempestades.

Na parcela com renda familiar de até 2 salários, 35% moram em casa nada preparadas para enfrentar chuvas intensas e tempestades. Esse índice cai pela metade na faixa de renda posterior, de 2 a 5 salários (17%), e recua ainda mais conforme o avanço da renda (11% na faixa de 5 a 10 salários, e 4% entre quem tem renda familiar superior a 10 salários).

O índice de pessoas que dizem morar em casas muito preparadas para enchentes e alagamentos (37%) é similar ao de respostas para nada preparadas (35%), há 27% que vivem em domicílios um pouco preparados para esse tipo de situação.

Entre os mais pobres, com renda familiar de até 2 salários, 43% vivem em moradias nada preparadas para enfrentar enchentes e alagamentos, índice que cai para 27% na faixa de 2 a 5 salários, para 15% na faixa de 5 a 10 salários, e para 13% na faixa acima de 10 salários.

Na consulta sobre o preparado da casa para enfrentar situações de seca extrema, 23% dizem morar em casas muito preparadas para esse tipo de situação, índice menor do que os que vivem em moradias nada preparadas (38%).

O índice de despreparo, neste caso, também é mais alto entre brasileiros com renda familiar mais baixa, de até 2 salários (45%), e menor nas demais faixas de renda (31% entre quem tem renda de 2 a 5 salários, 26% entre quem tem renda de 5 a 10 salários, e 20% no segmento com renda acima de 10 salários).

Os brasileiros também responderam sobre o nível de preparo de seus bairros para as mesmas situações extremas, e as taxas dos que dizem viver em localidades nada preparadas supera a de muito preparadas nos quatro casos: 41% a 19% no caso de calor extremo, 42% a 19% na situação de chuva intensa ou tempestade, 43% a 23% diante de enchentes e alagamentos, e 42% a 17% em situações de seca extrema.

Utilizando a opinião dos brasileiros sobre o nível de preparo de suas moradias e de seus bairros para enfrentar esses quatro tipos de situações climáticas extremas, o Datafolha elaborou um Índice de Percepção de Vulnerabilidade a Eventos Climáticos. Para isso, atribuiu uma pontuação de 0 a 24 às respostas sobre o nível de preparo de casas e bairros, com peso maior para a percepção sobre a moradia, entendendo que se trata de uma ameaça mais próxima. Quanto mais próximo de 24, mais alta a percepção de invulnerabilidade a situações de calor extremo, chuvas, tempestades, alagamentos, enchentes e seca extrema.

Os brasileiros em vulnerabilidade crítica, com pontuação de 0 a 6, somam 31% da população com 16 anos ou mais, com maioria de pessoas com renda familiar de até 2 salários (66%) e presença maior de mulheres do que homens (60% a 40%).

No mesmo patamar, há 33% com alta vulnerabilidade a eventos climáticos, atingindo pontuações de 7 a 12 no Índice de Vulnerabilidade. Neste grupo há um equilíbrio entre mulheres (51%) e homens (49%) e a distribuição de variáveis demográficas e sociais segue a média da população brasileira adulta.

O grupo de vulnerabilidade média, que teve pontuação de 13 a 18 pontos no indicador de percepção, abrange 23% dos brasileiros. Há uma ligeira maioria de homens (53%) neste grupo, com presença acima da média também de brancos (43%, ante 36% da população) e de moradores do Sudeste (52%, ante 43% na média do país).

No menor grupo, formado por 13%, estão os brasileiros com baixa vulnerabilidade a eventos climáticos, ou seja, tendem a viver em casas e bairros muito preparados para situações de calor extremo, chuvas intensas, tempestades, enchentes, alagamentos e secas extremas. Entre esses menos vulneráveis, os homens são maioria (58%), a taxa de escolaridade superior fica acima da média (37%), e estão mais presentes, proporcionalmente, na região Sul (21%, ante 15% na média da população).

78% ACREDITAM QUE AÇÃO HUMANA CONTRIBUI COM AQUECIMENTO GLOBAL

As opiniões e experiências dos integrantes desses grupos sobre mudanças climáticas e eventos climáticos extremos mostra que os mais vulneráveis tendem a acreditar menos na contribuição humana para o aquecimento global e estiveram menos sujeitos, ao menos nas últimas semanas, a alguns dos eventos climáticos extremos para os quais se sentem menos preparados para enfrentar.

De forma geral, 78% dos brasileiros com 16 anos ou mais acreditam que as atividades humanas contribuem para o aquecimento do clima do planeta, sendo que 54% avaliam que contribuem muito, e para 25% contribuem um pouco. Há 17% que não veem contribuição, e 5% que preferiram não opinar.

No grupo de vulnerabilidade crítica, 47% acreditam que a atividade humana contribui muito para o aquecimento do planeta. Esse índice sobe para 53% no grupo de vulnerabilidade alta, para 60% no grupo de vulnerabilidade média, e fica em 61% no grupo de vulnerabilidade baixa.

Ampla maioria (89%) dos brasileiros com 16 anos ou mais declaram que a cidade onde moram passou por uma onda de calor extremo nas últimas semanas, com menor incidência na região Sul (71%).

A análise segundo os grupos de vulnerabilidade a eventos climáticos mostra que todos foram atingidos de maneira similar por ondas de calor extremo nas últimas semanas, com índices que variam de 91% (vulnerabilidade alta) a 84% (vulnerabilidade baixa).

Metade (50%) da população adulta também testemunhou chuva intensa ou tempestade na sua cidade nas últimas semanas, desta vez com maior incidência no Sul (88%) e no Sudeste (63%), em contraste com o Nordeste (11%).

No grupo de vulnerabilidade crítica, 44% presenciaram chuvas intensas ou tempestades em seus municípios, ante 51% no grupo de vulnerabilidade alta, 53% no grupo de vulnerabilidade média e 57% no grupo de vulnerabilidade baixa.

Três em cada dez (31%) brasileiros dizem que a cidade onde moram passou por alagamento ou enchente nas últimas semanas, com taxa acima da média no Sul (53%) e no Sudeste (40%), e abaixo da média no Nordeste (8%). Nas regiões metropolitanas, 38% testemunharam enchentes ou alagamentos na cidade onde moram, ante 25% em cidades do interior.

Entre aqueles que fazem parte do grupo de vulnerabilidade crítica a eventos climáticos, 26% passaram por alagamentos ou enchentes nas últimas semanas, índice mais baixo do que o registrado nos grupos de vulnerabilidade alta (30%), média (34%) e baixa (36%).

No mesmo patamar, 30% declaram ter passado por situação de seca extrema, com maior prevalência no conjunto das regiões Centro-Oeste/Norte (42%) e no Nordeste (39%), e menor no Sul (12%).

Neste caso, o grupo de vulnerabilidade crítica foi o mais atingido (32%), ao lado do grupo de vulnerabilidade alta (32%). No grupo de vulnerabilidade baixa, 29% passaram por situações de seca extrema nas últimas semanas, e no grupo de vulnerabilidade baixa esse índice fica em 20%.

Os brasileiros que passaram por algumas das situações descritas acima foram consultados sobre como elas afetaram suas vidas. Usando uma escala de 0 a 10 em que 0 significa que não foram afetados e 10 significa que foram muito afetados, 25% disseram que não foram afetados (0), e 17% declararam terem sido muito afetados (10). A média registrada foi de 4,9.

Entre as mulheres, 21% foram muito afetadas (10), e entre os homens esse índice foi menor (13%). Também foram muito afetados, com taxas acima da média, os mais pobres (23%) e os moradores do Nordeste (25%). No grupo de vulnerabilidade crítica, 21% foram muito afetados, índice similar ao registrado no grupo de vulnerabilidade alta (19%). Entre aqueles que fazem parte do grupo de vulnerabilidade média, o índice foi de 15%, e no de vulnerabilidade baixa, 10%.

O Datafolha também ouviu os brasileiros sobre algumas condições presentes ou não em suas casas que podem agravar situações relacionadas a eventos climáticos extremos, como áreas verdes na vizinhança e falta de ventilação na moradia.

Cerca de metade (53%) da população com 16 anos ou mais tem poucas árvores e sombras na vizinhança onde vivem, e esse índice fica acima da média no Nordeste (62%) e abaixo da média entre os mais ricos, com renda familiar acima de 10 salários (39%). No grupo de vulnerabilidade crítica, 59% vivem em vizinhanças com poucas árvores e sombras, ante 52% no grupo de vulnerabilidade alta, 51% no grupo de vulnerabilidade média e 45% no grupo de vulnerabilidade baixa.

Uma parcela de 29% vive em casas com materiais de construção que esquentam muito, com índice mais elevado no grupo de vulnerabilidade crítica (37%) e mais baixa no grupo de vulnerabilidade baixa (12%). No grupo de vulnerabilidade alta o índice é de 31%, e no grupo de vulnerabilidade média, de 26%.

Há 26% que vivem em casas com poucas janelas, onde falta ventilação e circulação de ar. No segmento de renda familiar mais baixa, de até 2 salários, esse índice sobe para 37%, e cai para 15% no seguinte, de 2 a 5 salários. Na faixa de renda de 5 a 10 salários, recua para 6%, e fica em 10% no segmento com renda superior a 10 salários. Na região Nordeste, 39% vivem em moradias em que fala ventilação, com poucas janelas, em contraste com o Sul, onde esse índice é de 17%. No Sudeste, fica em 22%, e no conjunto das regiões Norte e Centro-Oeste é de 25%. No grupo de vulnerabilidade crítica a eventos climáticos, 38% convivem com falta de ventilação, em moradias com poucas janelas, e esse índice recua para 27% no grupo de vulnerabilidade alta, para 19% no grupo de vulnerabilidade média e para 9% no grupo de vulnerabilidade baixa.

Um brasileiro em cada cinco (20%) mora com pessoas que precisam de cuidados especiais, como idosos e doentes crônicos, e 12% vivem em casas com muitas pessoas, dividindo quartos (no grupo de vulnerabilidade crítica, 16%, ante 11% no grupo de vulnerabilidade alta, 9% no grupo de vulnerabilidade média e 7% no grupo de vulnerabilidade baixa).

Em outro tópico consultado, 15% declaram conviver com falta de água em casa, com incidência mais alta no Nordeste (23%). No grupo de vulnerabilidade crítica, 20% convivem com falta de água, ante 14% no grupo com vulnerabilidade alta, 12% no grupo de vulnerabilidade média e 7% no grupo de vulnerabilidade baixa.

Há 11% que também convivem com falta de energia no domicílio, com índice mais alta no conjunto das regiões Norte e Centro-Oeste (19%). Entre quem faz parte de grupo de vulnerabilidade crítica a eventos climáticos, 15% convivem com falta de energia, índice que fica em 11% no grupo de vulnerabilidade alta, em 7% no grupo de vulnerabilidade média e em 6% no grupo de vulnerabilidade baixa.

Ampla maioria (85%) dos brasileiros tem ventilador em casa, e um em cada quatro (24%) possui ar-condicionado no domicílio. Na parcela com renda familiar de até 2 salários, 11% têm ar condicionado, índice que triplica na faixa seguinte, de 2 a 5 salários (34%), sobe para 43% na faixa de 5 a 10 salários, e atinge 66% na faixa com renda superior a 10 salários.

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