Direita supera esquerda no Brasil

DE SÃO PAULO

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Em meio ao debate eleitoral, a parcela de eleitores brasileiros afinados com temas defendidos pela direita (45%) supera atualmente à de eleitores mais afinados com as ideias ligadas à esquerda (35%). Esse resultado mostra uma mudança na opinião dos brasileiros em relação a temas relacionados a comportamentos, valores e economia, que resultam nessa segmentação.

Em novembro do ano passado, essas opiniões dividiam a população adulta de forma igual, com 41% dos brasileiros à esquerda, e 39%, à direita. Nos dois levantamentos, 20% se situam no centro do espectro ideológico.

Nesse levantamento realizado entre os dias 1 e 3 de setembro de 2014, o Datafolha entrevistou 10.054 eleitores em 361 cidades em todas as regiões do Brasil. A margem de erro máxima é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, para o total da amostra.

Ao tratar somente de temas comportamentais e ligados a valores, os segmentos da população com mais afinidades com a direita (55%, sendo 15% de direita, e 40%, de centro-direita) superam os mais ligados à esquerda (25%, sendo 3% afinados com a esquerda, e 21%, com a centro-esquerda). O centro puro, neste caso, abrange 21% do eleitorado. Em novembro de 2013, 49% estavam posicionados à direita (12% à direita, e 37%, à centro-direita), 29% nos segmentos à esquerda (4% na esquerda, e 25% na centro-esquerda), e 22% no centro.

Quando se consideram apenas aspectos econômicos, 30% mostram mais afinidades com temas ligados à direita (20% na centro-direita, e 10% na direita), e 43%, com temais ligados à esquerda (18% na esquerda, e 25%, na centro-esquerda). A fatia dos que se situam no centro abrange 27%. Em novembro de 2013, a parcela situada à esquerda era de 46% (21% à esquerda, e 25% na centro-esquerda), enquanto 26% estão mais afinados economicamente com a direita (8% com a direita, e 18% com a centro-direita). A fatia dos que se situam no centro para temas econômicos ficou estável, em 27%.

Dilma ganha mais votos da esquerda

Na disputa pela Presidência da República em curso, Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) dividem a liderança, com 35% e 34% das intenções de voto, tendo Aécio Neves (PSDB) como terceira força, com 14% das intenções de voto. A análise da corrida presidencial pelo recorte dos grupos ideológicos - para comportamento, temas econômicos e de forma geral - mostra que a preferência por Dilma tende a crescer conforme se avança da direita para a esquerda, obtendo indicações acima da média na esquerda. Já Marina tem suas votações bem distribuídas em todos os segmentos, destacando-se entre os eleitores de centro, enquanto Aécio tem votações acima da média na direita e abaixo da média na esquerda, com oscilações nos segmentos de centro.

Na segmentação por temas econômicos, Dilma tem maior vantagem entre os que se situam à esquerda (41%, ante 34% de Marina e 11% de Aécio). Na parcela de centro-esquerda, a petista fica com 38%, ante 34% de Marina e 13% de Aécio. No centro, Dilma tem 34%, mesmo atingido por Marina, e Aécio fica com 16%. No eleitorado de centro-direita, a atual presidente registra 30% das intenções de voto, ante 34% de Marina e 15% de Aécio. Entre os que estão à direita, Dilma tem 32%, no mesmo patamar que a candidata do PSB (33%). Aécio fica com 16%.

O recorte pelos temas de comportamento mostra vantagem mais acentuada de Dilma nos espectros à esquerda: entre o eleitorado de esquerda, ela tem 41%, ante 33% de Marina, 8% de Aécio, 3% de Luciana Genro (PSol), e 3% de Eduardo Jorge (PV). Entre os que estão na centro-esquerda, a petista fica com 39%, enquanto Marina registra 32%, e Aécio, 14%. No eleitorado de centro, a vantagem é de Marina (38%), e em seguida aparecem a atual presidente (32%) e Aécio (13%). Entre os que estão na centro-direita, há equilíbrio entre Dilma (35%) e Marina (33%), e Aécio registra com 15%. Na direita, Marina registra 34%, no mesmo patamar que Dilma (33%). O candidato do PSDB obtém 16% neste segmento.

Na escala geral, que considera tantos temas de comportamento quanto econômicos, Dilma registra maior vantagem sobre Marina no segmento da esquerda (42% a 33%, enquanto Aécio fica com 11%). Entre o eleitorado de centro-esquerda, a petista obtém 38%, em patamar similar ao registrado por Marina (35%), e o candidato do PSDB atinge 12%. No centro, Dilma tem 37%, ante 33% de Marina e 15% de Aécio. Na centro-direita, parcela mais numerosa do eleitorado, a ex-senadora do Acre alcança 35%, enquanto Dilma fica com 32%, e Aécio, com 14%. Na direita, Marina tem 32% das intenções de voto, ante 30% de Dilma e 17% do senador Aécio Neves.

Nas simulações de segundo turno entre Marina e Dilma (48% a 41% no total do eleitorado), Marina consegue abrir maior vantagem sobre Dilma no eleitorado com mais afinidades com a direita (50% a 35%) e centro-direita (50% a 38%), considerando tanto temas econômicos quanto de comportamento. No centro, a candidata do PSB registra 48%, ante 43% da petista. Entre o eleitorado de centro-esquerda, Marina tem 47%, e Dilma, 45%. Na parcela de esquerda, Dilma alcança 50%, e a ex-senadora, 43%.

Ainda considerando a segmentação que abrange economia e comportamento, Dilma enfrenta sua maior taxa de rejeição no segmento de centro-direita (35%, ante 32% na média geral), e a menor entre os eleitores de esquerda (25%). No eleitorado de esquerda, quem enfrenta a maior taxa de rejeição é Pastor Everlado (PSC), em quem 31% não votariam de jeito nenhum.

Temas ligados à direita ganham mais adeptos

Temas relacionados com a direita do espectro ideológico, tanto para assuntos de economia quanto comportamento, obtiveram maior apoio na pesquisa atual do que na realizada em novembro de 2013, o que explica o avanço dos grupos de centro-direita e direita.

Nesse período, cresceu de 30% para 35% o índice de brasileiros que acreditam que possuir uma arma legalizada deve ser um direito de todo cidadão para se defender, e recuou de 68% para 62% a fatia dos que acreditam que a posse de armas deve ser proibida, pois representa uma ameaça à vida de outras pessoas. Também cresceu cinco pontos, de 32% para 37%, a parcela de brasileiros que avaliam que boa parte da pobreza está ligada à preguiça de pessoas que não querem trabalhar, em detrimento da fatia dos que acreditam que boa parte da pobreza está ligada à falta de oportunidades iguais para que todos possam subir na vida, que caiu de 65% para 58%.

Queda ainda mais significativa teve a de brasileiros que acreditam que o governo deve atuar com força na economia para evitar os abusos de empresas, de 58% para 51%, enquanto avançou de 31% para 35% o índice dos que acreditam que quanto menos o governo atrapalhar a competição entre as empresas, melhor para todos, e de 10% para 14% a fatia dos que não opinaram.

A afirmação de que os sindicatos são importantes para defender os trabalhadores perdeu respaldo entre novembro de 2013 e setembro de 2014 (de 49% para 42%), e cresceu nesse intervalo o índice dos que avaliam que os sindicatos servem mais para fazer política do que para defender os trabalhadores (de 45% para 50%).

Também caiu o apoio à posição de que adolescentes que cometem crimes devem ser reeducados (de 26% para 22%), e cresceu na mesma medido o apoio à que os adolescentes que cometam crimes sejam punidos como adultos (de 72% para 76%).

O debate sobre a homossexualidade teve oscilação menor: em novembro do ano passado, 67% indicavam que a homossexualidade deveria ser aceita por toda a sociedade, ante 64% em setembro de 2014. No mesmo período, passou de 25% para 27% a taxa dos que acreditam que a homossexualidade deveria ser desencorajada por toda a sociedade. A avaliação de que pessoas pobres de outros países e Estados que vão para as cidades do entrevistado contribuem para o desenvolvimento e cultura desses locais era compartilhada por 67% em novembro, e agora tem o apoio de 63%. A fatia dos que acreditam que essas pessoas criam problemas para a cultura e desenvolvimento das cidades oscilou de 25% para 26%, e foi de 8% para 11% a taxa dos que não opinaram.

Entre os temas mais ligados à esquerda, o único a apresentar avanço significativo foi a diminuição no apoio à pena de morte como melhor forma de punição para indivíduos que cometem crimes graves (de 47% para 43%), enquanto foi de 49% para 52% o índice dos que acreditam que não cabe à Justiça matar uma pessoa, mesmo que ela tenha cometido um crime grave.

O tópico com o maior apoio absoluto entre os brasileiros continua sendo o de que a crença em Deus torna as pessoas melhores (86%), ante 13% que opinam que acreditar em Deus não necessariamente torna uma pessoa melhor. A discussão sobre drogas tem indicadores semelhantes: 82% acreditam que as drogas devem ser proibidas porque toda a sociedade sofre com as consequências, enquanto 15% avaliam que deveriam ser legalizadas porque é o usuário quem sofre com as consequências do uso de drogas. .

A opinião de a maior causa da criminalidade é a falta de oportunidades iguais para todos passou de 34% para 36%, enquanto recuou de 63% para 60% a posição de que a maior causa da criminalidade á maldade das pessoas.

Metade (49%) dos eleitores brasileiros acredita que a é preferível pagar menos impostos ao governo e contratar serviços particulares de educação e saúde, enquanto 40% avaliam que é preferível pagar mais impostos ao governo e receber serviços gratuitos de educação e saúde. Em novembro do ano passado, esses índices eram de 49% e 43%, respectivamente. No período, foi de 8% para 11% a taxa dos que não opinaram sobre o tema.

Sobre o tema, leia a análise de Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, e Alessandro Janoni, diretor de pesquisas do instituto, publicada na Folha

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