A mais recente pesquisa nacional do Datafolha procurou identificar o posicionamento político dos eleitores brasileiros, no tradicional espectro entre esquerda e direita, repetindo pergunta feita pela primeira vez em 1989. Este é o quarto levantamento desde então. Neste levantamento, foram ouvidos 6969 eleitores, com 16 anos ou mais, em 306 municípios do país, nos dias 7 e 8 de agosto. A margem de erro para o total da amostra é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Para identificar o posicionamento político do entrevistado é apresentado a ele um cartão com sete números e feita a seguinte pergunta:
Como você sabe, muita gente quando pensa em política utiliza os termos esquerda e direita. No quadro que aparece neste cartão em qual posição política você se colocaria, sendo que a posição "um" é o máximo à esquerda e a posição "sete" é o máximo à direita?
Os dados são processados considerando-se que os números 1, 2 e 3 representam uma posição à esquerda; o número 4 é o centro; e os números 5, 6 e 7 são direita. Além disso, são excluídos do resultado final os entrevistados que não souberam responder ou que deram outras respostas.
Esses levantamentos mostram estabilidade na taxa dos que se posicionam à direita, que têm representado a maior parte, desde o primeiro, e variações nas dos que se situam à esquerda e no centro.
Em 1989, 29% dos entrevistados se posicionavam à esquerda, 24% no centro e 48% à direita. Em 2000, ano em que a oposição ao governo de então, com destaque para o PT (Partido dos Trabalhadores), teve significativas vitórias nas eleições municipais, a taxa dos que se classificavam de esquerda chegou a 35%, enquanto a dos que se situavam no centro caiu para 20%. Naquele ano, 47% se identificavam com a direita. Em 2003, com o petista Luiz Inácio Lula da Silva no poder, fazendo um governo que para muitos já se afastava do ideário esquerdista, a taxa dos que se classificavam como de esquerda caiu para 31%. A taxa de brasileiros que se situavam no centro oscilou para 19% e a dos que se classificavam como de direita passou para 49%.
Três anos depois, nova pesquisa mostra estabilidade nos dois extremos e crescimento no centro: 30% estão à esquerda, 23% no centro e 47% à direita no espectro político.
Também é calculada uma média para o posicionamento político, levando-se em consideração a escala que vai de 1 a 7. Essa média foi 4,3 em 1989 e 4,4 em 2000, 2003 e 2006.
A pesquisa mostra que, entre os simpatizantes do PT, 40% se posicionam à esquerda (dez pontos acima da média), 18% no centro (cinco pontos abaixo da média) e 21% à direita (na média). Entre os simpatizantes do PSDB, por outro lado, 53% se identificam como de direita (seis pontos acima da média), 26% com o centro e 21% com a esquerda (nove pontos abaixo da média). Além disso, o estudo revela que entre os eleitores que têm intenção de votar em Lula para presidente, o posicionamento político se encontra dentro da média nacional. Já entre os eleitores do peessedebista Geraldo Alckmin a taxa dos que se identificam com a direita chega a 53%, idêntica à registrada entre os simpatizantes do seu partido.
No Nordeste, onde Lula tem 65% das intenções de voto, a taxa dos que se classificam de direita chega a 54%, sete pontos acima da média nacional, próxima da registrada nas regiões Norte e Centro-oeste (51%). No Sul, os que se posicionam no centro somam 28% (cinco pontos acima da média), e no Sudeste a esquerda fica ligeiramente acima da média, chegando a 33%.
Levando-se em consideração os três estados que permitem uma análise em separado dos resultados, o Rio de Janeiro é o que apresenta maior variação acima da margem de erro: 36% se classificam como de esquerda.
A identificação à esquerda chega a 37% entre os eleitores de renda familiar acima de dez salários mínimos. No outro extremo, entre os que ganham até dois salários mínimos, 55% se identificam com a direita.
Entre os de escolaridade superior, 41% se posicionam no centro, taxa 18 pontos acima da média. Por outro lado, entre os que têm ensino fundamental, 56% estão à direita (nove pontos acima da média).
Também foi solicitado aos entrevistados que dissessem em que posição política colocariam os candidatos a presidente.
Lula e Heloísa Helena obtiveram a mesma taxa de entrevistados para quem eles são de esquerda: 35%. Para idêntico percentual, Geraldo Alckmin é de direita.
É importante notar que grande parte dos entrevistados não soube responder à indagação. A taxa dos que não souberam responder é de 40% em relação a Heloísa Helena, de 39% em relação a Alckmin e de 33% em relação a Lula.
A pesquisa também indagou os eleitores brasileiros sobre alguns temas polêmicos, como a pena de morte, a redução da maioridade penal, a descriminalização da maconha e a ampliação da lei que regula o aborto.
De forma geral, a maneira como os entrevistados se localizam politicamente não determina variações expressivas no posicionamento sobre os temas.
63% são contra que o aborto seja permitido em mais casos do que os previstos por lei atualmente
Para 63% dos eleitores brasileiros não deve haver mudança na lei que permite o aborto apenas em casos de estupro e de risco de vida da mãe. Na opinião de 17%, o aborto deveria ser permitido em mais situações, além das previstas atualmente, e 11% são a favor que ele deixe de ser crime em qualquer caso.
A posição contrária à ampliação da lei é ligeiramente maior entre as mulheres (65%) do que entre os homens (62%).
Entre os eleitores com nível superior de escolaridade, a taxa dos que opinam contrariamente à ampliação da lei fica 10 pontos abaixo da média, chegando a 53%, e a dos que acham que o aborto deve ser permitido em mais casos chega a 30%, ou seja, 13 pontos acima da média. Entre os que têm renda familiar mensal acima de dez salários mínimos, 49% acham que a lei não deve mudar (14 pontos abaixo da média) e 34% são a favor da liberação do aborto em mais situações (o dobro do registrado entre o total de entrevistados).
Quando se considera a intenção de voto para presidente do eleitor, verifica-se que entre os que pretendem votar em Heloísa Helena (PSOL) para presidente, a taxa dos que opinam que o aborto deve ser permitido em mais situações fica ligeiramente acima da média, chegando a 21%. Entre os eleitores que pretendem reeleger o presidente Lula (PT) e os que têm intenção de votar em Geraldo Alckmin (PSDB) a posição a respeito do tema é parecida com a da média.
Não são registradas variações significativas quando se leva em conta a maneira como o eleitor se posiciona politicamente.
Entre os eleitores que se classificam politicamente como de esquerda, 14% são a favor que o aborto deixe de ser crime em qualquer caso. Entre os que se posicionam no centro, 20% acham que o aborto deve ser permitido em mais situações. Os eleitores que ficam à direita no espectro político opinam como a média do eleitorado.
A maioria (75%) dos entrevistados têm conhecimento de que o aborto, atualmente, só é permitido por lei em casos de estupro e risco de vida da mãe.
Para 79%, fumar maconha deve continuar proibido por lei
De acordo com 79% dos eleitores brasileiros, fumar maconha deve continuar proibido por lei. São favoráveis a que fumar maconha deixe de ser crime 18%. São indiferentes à questão 2%.
Em relação à última pesquisa nacional feita pelo Datafolha sobre o tema, não houve mudança. Em março de 1995, 81% achavam que fumar maconha deveria continuar sendo proibido por lei e 17% achavam que o ato deveria deixar de ser crime.
As mulheres (82%), mais do que os homens (75%) são favoráveis a que continue sendo crime fumar maconha.
Entre os eleitores com escolaridade superior, a taxa dos que acham que fumar maconha deve deixar de ser considerado crime é de 27% (nove pontos acima da média), e entre os que têm renda acima de dez salários mínimos, ela chega a 30% (12 pontos acima da média).
Os eleitores de Heloísa Helena são os mais favoráveis à descriminalização da maconha: 24% deles têm essa opinião, taxa seis pontos acima da média.
A posição favorável à que fumar maconha deixe de ser crime fica ligeiramente acima da média entre os eleitores que se situam politicamente à esquerda e entre os que se classificam como de centro (22% em ambos os casos).
84% são a favor da redução da maioridade penal
A posição a favor da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos chega a 84% entre os eleitores brasileiros. São contra a redução da maioridade penal apenas 11%. Em dezembro de 2003 a taxa dos que eram favoráveis à redução da maioridade penal era idêntica à verificada hoje, e a dos contrários à medida era de 12%.
Entre os eleitores que têm intenção de votar em Heloísa Helena, a taxa dos que são favoráveis à redução da maioridade penal chega a 90%, seis pontos acima da média. Entre os eleitores de Geraldo Alckmin essa taxa é de 88% (quatro pontos acima da média). Entre os que pretendem votar em Lula, 83% são a favor e 12% contra, taxas dentro da média.
Para 71% dos que são a favor da redução da maioridade penal, ela deve ser aplicada para qualquer tipo de crime. Na opinião de 29%, ela deve ser aplicada apenas para determinados tipos de crime.
Entre os que acham que a medida deve servir apenas para alguns crimes, 67% citam homicídio, 54% estupro, 34% assalto, roubo ou furto e 31% estupro seguido de morte. Alguns dos outros crimes citados são sequestro seguido de morte (28%), sequestro (23%) e tráfico de drogas (22%).
A maioria (72%) acha que a melhor maneira de se decidir sobre a redução da maioridade penal é através de plebiscito. Para 20% essa decisão deve ser tomada através de votação no Congresso Nacional.
O Datafolha indagou qual deveria ser a idade mínima para uma pessoa ir para a cadeia responder pelos crimes que cometeu. A média obtida foi de aproximadamente 15 anos, sendo que 29% citam idade entre 13 a 15 anos e 41% de 16 a 17 anos. Essa média é a mesma verificada na pesquisa de 2003.
51% votariam a favor da pena de morte; 42%, contra
Se houvesse uma consulta à população hoje, 51% dos eleitores brasileiros votariam a favor da adoção da pena de morte no Brasil. Votariam contra 42%. São percentuais similares aos registrados em maio deste ano, quando 49% dos entrevistados se posicionavam a favor e 45% contra a adoção da pena capital no país. Se declaram indiferentes 2% e não sabem responder à indagação 5%.
Esse é um tema que gera contrastes significativos em vários dos segmentos em que a amostra foi dividida.
O posicionamento dos eleitores do Rio de Janeiro é inverso ao do registrado em todo o país: 51% votariam contra a pena de morte, ante 45% que votariam a favor. Em Minas Gerais as opiniões se dividem: 45% votariam a favor e 46% contra. Em São Paulo os resultados ficam dentro da média: 52% favoráveis, 41% contrários à pena de morte.
No Sul, a posição favorável à pena de morte chega a 57%. Nas outras regiões ocorrem ligeiras variações, mas o posicionamento é semelhante ao da média nacional.
Entre os eleitores com escolaridade superior, a maior parte (51%), se consultada, votaria contra a pena de morte; 44% votariam a favor.
As mulheres se dividem: 46% votariam a favor e idêntico percentual se posicionaria de maneira contrária. Já entre os homens, 56% são favoráveis e 39% contrários à adoção da medida.
Os eleitores que têm intenção de votar pela reeleição do presidente Lula estão próximo da média: 49% são a favor da pena de morte e 44% contra. Já entre os eleitores de Geraldo Alckmin e Heloísa Helena predomina a posição favorável à pena capital. Entre os que preferem o peessedebista para presidente, 56% votariam a favor; entre os que votam na senadora do PSOL, 55% são favoráveis.
Quando se trata do partido de preferência dos entrevistados, nota-se que os petistas se dividem: 49% votariam a favor e 46% contra a pena de morte. Entre os simpatizantes do PSDB, por outro lado, 57% votariam a favor, mesmo percentual de adesão à pena de morte verificada entre os pefelistas.
Indagados a respeito de quais deveriam ser os crimes punidos com a pena de morte, os entrevistados favoráveis à medida citaram principalmente homicídio (67%), estupro (57%), estupro seguido de morte (40%) e sequestro seguido de morte (33%). Vêm a seguir, entre outros crimes, sequestro (23%), assalto, roubo ou furto (22%), tráfico de drogas (15%). Para 6% desses entrevistados, corruptos deveriam ser punidos com a pena de morte, e 3% defendem que consumidores de drogas sejam submetidos à pena capital.
A maioria (70%) defende a realização de um plebiscito como a melhor maneira para se decidir sobre a adoção da pena de morte no Brasil. Para 21% seria melhor que essa decisão fosse tomada pelo Congresso Nacional.
São Paulo, 10 de agosto de 2006.