A sexualidade dos brasileiros

DE SÃO PAULO

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O Brasil sempre foi associado não só às suas belezas naturais, mas também à descontraçãoe alegria de seu povo. Essa descontração porém, carrega em alguns casos, certa conotação erótica utilizada freqüentemente como publicidade no desenvolvimento do chamado turismo sexual. A polêmica recente sobre o papel da mídia na propagação dessa imagem reascende a discussão sobre aspectos curiosos da sexualidade dos brasileiros. As referências culturais e religiosas que ditam o comportamento do indivíduo diante da sociedade e em sua vida privada são focalizadas constantemente na tentativa de se ilustrar o debate. Pesquisa realizada pelo Datafolha no dia 10 de novembro de 1997 em todo o território nacional, fornece dados interessantes para uma melhor compreensão desse cenário.

Foram entrevistadas 2054 pessoas, com idade entre 18 e 60 anos. O desenho amostral contempla cotas de sexo e faixa etária definidas com base na distribuição da população. Com o objetivo de evitar recusas e garantir maior veracidade aos resultados, foram elaborados dois tipos de questionário. O primeiro era aplicado pelo pesquisador e continha basicamente perguntas de opinião. O segundo era de auto-preenchimento e relacionava, entre outras, questões referentes a hábitos e fantasias sexuais. O entrevistado recebia o segundo questionário depois de responder às perguntas feitas pelo pesquisador e o preenchia secretamente. Depois, o colocava numa urna lacrada que seria aberta posteriormente nas coordenações regionais. Caso o entrevistado se recusasse a preenchê-lo ou admitisse ser analfabeto, a ocorrência era anotada e o questionário depositado em branco, na urna. Do total da amostra, foram excluídos 160 entrevistados que se disseram analfabetos (8%) e 297 que se recusaram a preencher o questionário (15%).

Mesmo assim, diante do conteúdo das perguntas, algumas pessoas deixaram de respondê-las. Dado o perfil dos que o fizeram com maior frequência (menos escolarizados e mais velhos), conclui-se que os principais motivos foram falta de conhecimento e algum tipo de inibição em relação ao assunto. Para uma interpretação estatística segura dos dados, nas tabelas que trazem os resultados referentes ao questionário de auto-preenchimento, foi incluída a categoria dos que não responderam em cada uma das perguntas. Sugere-se considerar esse comportamento da população no processo de análise das informações obtidas. Vale lembrar que os analfabetos e as recusas totais foram excluídos da base.

Em alguns casos, os resultados surpreendem. Revelam por exemplo que o brasileiro considera seu povo muito interessado em sexo e totalmente liberado, mas não identifica em si a mesma intensidade de obsessão e volúpia.

No "país mais católico do mundo", apesar da virgindade feminina ainda causar polêmica, a maioria teve relações sexuais antes de se casar, classifica a masturbação como algo saudável e aponta o prazer como a principal função do sexo. Quanto à prostituição e a união de homossexuais, a reprovação traz curiosidades: os mais jovens tendem a rejeitar mais a prostituição do que o homossexualismo. Mesmo assim, um em cada quatro homens admite já ter mantido relações com prostitutas ou prostitutos.

A satisfação com a vida sexual é mais alta entre os homens do que entre as mulheres. A explicação pode estar no fato de que entre eles, a taxa dos que dizem atingir o orgasmo é quase duas vezes maior à que se verifica entre elas. Em relação a AIDS, o medo é constante, mas não o suficiente para se usar preservativos ou para se fazer o exame de sangue que detecta a doença. A taxa elevada de entrevistados que dizem ter parceiros fixos sugere a confiança no companheiro como justificativa para a falta da prevenção.

Os desejos e fantasias são reprimidos na grande maioria dos casos, especialmente no segmento feminino. Experiências homossexuais são relatadas com mais frequência pelos homens do que pelas mulheres, apesar dos índices que representam a atração por pessoas do mesmo sexo se mostrarem significativos em ambos os segmentos.

No geral, em relação às práticas sexuais, os cruzamentos apontam maior conservadorismo por parte dos menos escolarizados e mais velhos, e tendências liberais nas categorias do extremo oposto, porém os contrastes não são tão genéricos ou expressivos quanto talvez se esperava. A edição do relatório e dos gráficos procura enfatizar tais diferenças, focalizando variáveis que guardam afinidade temática com o objetivo de cada uma das perguntas.

Apesar de se dizerem sexualmente liberados (39%), a maior parte dos brasileiros (43%) afirma ter apenas um interesse médio em relação ao assunto sexo. O resultado contradiz a imagem que o entrevistado mantém em relação ao seu povo. Segundo 43%, a população do país se interessa muito por sexo e para 35% ela é totalmente liberada e aberta a qualquer tipo de experiência.

Revelam ter um interesse muito grande especialmente os homens (25% contra 8% das mulheres), os mais jovens (18%), os mais escolarizados (21%), os que recebem mais de 20 salários mínimos (22%) e os que moram nas regiões Sudeste, Norte e Centro-Oeste do país (18%). É interessante notar que entre os que nunca tiveram relações sexuais, essa taxa é de apenas 7%. Entre os que já tiveram relações homossexuais, o grau de interesse também é maior do que entre os que nunca o fizeram (24% contra 18%, respectivamente).

Acham que os brasileiros de um modo geral também atribuem grande importância ao sexo principalmente as mulheres (48% contra 37% dos homens), os mais jovens (55%), os que possuem renda superior a 20 salários mínimos (50%) e os que moram nas regiões metropolitanas (45%). Entre os que nunca tiveram relações sexuais, a grande maioria (64%) acha que a população tem um interesse muito grande pela questão. Já entre os que já tiveram tal experiência, esse índice cai para 46%.

A ocorrência de entrevistados que admitem ser totalmente liberados sexualmente é mais frequente entre os homens (23%), entre os que têm de 35 a 44 anos (24%), os menos escolarizados (26%), os que possuem renda de até 10 salários mínimos (23%), os divorciados (25%), e os que moram em cidades do interior (23%). Entre as mulheres, 16% se julgam nada liberadas e reprovam qualquer tipo de experiência. No segmento masculino, essa taxa é de 12%. É importante lembrar que as perguntas referentes à avaliação do comportamento individual foram incluídas no questionário de auto-preenchimento, limitando a base apenas às pessoas que sabiam ler e escrever. No caso, também foram desconsiderados os entrevistados que se recusaram a responder.

Quanto à função do sexo, 53% defendem a tese de que o prazer é o principal objetivo. Apenas 22% acham que a reprodução constitui a essência do ato. Outros 22% apontam as duas justificativas. Entre as mulheres, menções ao prazer são mais significativas do que entre os homens (58% contra 47%, respectivamente). >A mesma tendência é observada entre os mais jovens (56%), entre os mais escolarizados (61%), entre os que possuem renda superior a 20 salários mínimos (59%), os divorciados (59%), os que não têm religião (63%) e os que moram no Sul do país (60%). A teoria da reprodução é enfatizada com mais frequência pelos homens (23%), pelos mais velhos (25%), pelos menos escolarizados (27%), pelos que recebem até 10 salários mínimos (25%), pelos que foram observados negros (30%), pelos evangélicos pentecostais (30%) e pelos que moram no Nordeste (32%).

*Maioria se diz satisfeita com vida sexual
Entre os homens, 61% afirmam que sempre atingem o orgasmo; entre as mulheres essa taxa é de 31%*

A maioria dos brasileiros (68%) considera ótima ou boa sua vida sexual. Classificam-na como regular 22% dos entrevistados, enquanto outros 7% a reprovam. Entre os homens, a satisfação é maior do que entre as mulheres (76% contra 61%, respectivamente). A aprovação também é mais expressiva entre os que têm de 25 a 34 anos (74%), entre os mais escolarizados (73%), entre os que possuem renda de 10 a 20 salários mínimos (82%), os que foram observados como sendo brancos (71%), os casados (74%) e entre os que moram na região Sul do país (75%).

A avaliação negativa aparece com mais frequência entre as mulheres (10% contra 3% dos homens), entre os que têm de 45 a 60 anos (15%), entre os que foram observados negros (13%) e entre os viúvos (18%).

A maior parte dos entrevistados (46%) afirma estar tendo tantas relações sexuais quanto deseja. Apesar disso, uma elevada parcela (32%) admite estar tendo menos relações do que gostaria. Não responderam à pergunta 10% do total. Dizem pecar pelo excesso 11% dos brasileiros.

Estão satisfeitos principalmente os homens (50%), os que têm entre 25 e 44 anos (49%), os que recebem de 10 a 20 salários mínimos (58%), os casados ou amigados (53%), os que não têm religião (54%), os que moram no Sul do país (56%) e os que dizem manter relações todos os dias (61%). É interessante observar que entre os que nunca tiveram relação sexual, 6% se mostram satisfeitos com a condição.

O índice dos que gostariam de ter mais relações é mais expressivo entre as mulheres (34%), entre os que têm de 45 a 60 anos (36%), os mais escolarizados (39%), os que possuem renda superior a 20 salários mínimos (35%), os viúvos (51%) e os que residem nas regiões metropolitanas (36%).