Brasileiros se dizem dispostos a trabalhar voluntariamente, mas maioria nunca participou de instituições ou campanhas

DE SÃO PAULO

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Pesquisa realizada pelo Datafolha no último dia 18 de setembro em todo o país mostra que os brasileiros dão muita importância ao trabalho voluntário, demonstram disposição em colaborar trabalhando voluntariamente, mas também que a maioria (73%) nunca participou de instituições ou campanhas como voluntário prestando serviços para a comunidade.

Foram entrevistados 2830 brasileiros, e a margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Para 83% dos entrevistados, o trabalho voluntário é muito importante para o Brasil. São 12% os que atribuem um pouco de importância e 2% os que acham que o trabalho voluntário não é nada importante para o país.

A maioria afirma estar disposta a trabalhar como voluntário, fazer doações em dinheiro ou de outro tipo.

Considerando-se especificamente o trabalho voluntário, 41% se dizem muito e 34% um pouco dispostos a isso. São 21% os que se dizem nada dispostos a trabalhar como voluntários.

Apesar do alto grau de disposição demonstrado, 73% nunca participaram de instituições ou campanhas como voluntário prestando serviços para a comunidade.

Já participaram, mas atualmente não participam mais 16% e continuam participando 12%.

A participação é maior entre os brasileiros de melhor condição socioeconômica: entre os que têm renda familiar mensal superior a 20 salários mínimos chega a 38% a taxa dos que participam de instituições ou campanhas como voluntários. Entre os que têm nível superior essa taxa é de 29%, e entre os que fazem parte das classes A e B, de 24%.

Na região Sul 16% participam desse tipo de trabalho. Na região Nordeste, por outro lado, essa taxa é de 9%.

Considerando-se a religião do entrevistado, verifica-se que o engajamento em trabalho voluntário fica acima da média entre os espíritas: 26% desses entrevistados participam atualmente de alguma instituição ou campanha.

Solicitados a dizer, espontaneamente, o que entendem por trabalho voluntário, 35% disseram que se trata de ajudar o próximo ou os necessitados. Um terço (30%) dos entrevistados não soube responder à questão.

Para 7% trata-se de trabalhar sem remuneração, mesma taxa dos que se referem a doações e ajuda financeira (5% deles citam doação de alimentos); 6% citam serviços para a escola ou para a educação. Prestar serviços à comunidade, a hospitais e entidades de saúde, ajudar pessoas com problemas de saúde e disponibilizar tempo para trabalhar são citados por 3% dos entrevistados, cada.

Dos que participaram de alguma campanha ou instituição, 56% trabalharam como voluntários, 16% fizeram doações e 27% fizeram as duas coisas.

Ajudar outras pessoas foi o motivo mais citado pelos que já participaram de alguma instituição ou campanha que promove trabalho voluntário: 26% dizem que se tornaram voluntários para ajudar o próximo, de maneira geral, e 25% que o fizeram para ajudar as pessoas necessitadas. Disseram que se tornaram voluntários porque dispunham de conhecimento ou meios para ajudar 12%. Percentual idêntico afirmou que se tornou voluntário por influência de outrem, sendo que, destes, 8% citaram a Igreja ou comunidade religiosa e 3% amigos e familiares. Se disseram movidos pela satisfação pessoal obtida em ajudar ao próximo 8%. Alguns dos outros motivos citados foram o fato de pertencer a alguma entidade ou associação, gostar de crianças (6%, cada), ter sido motivado por alguma campanha (5%), dispor de tempo (4%) e ter vivido situações parecidas (3%).

O motivo mais citado para ter deixado de atuar como voluntário foi a falta de tempo, citada por 49% dos entrevistados que já participaram de alguma instituição ou campanha e não participam mais.

Também foram mencionados, entre outros motivos, a mudança de endereço, cidade ou estado (13%), o encerramento ou inexistência de trabalho voluntário na localidade onde reside (9%), por nunca ter sido convidado (7%), falta de condições financeiras (4%), por ter se cansado de ser voluntário (3%) e por causa de corrupção existente na entidade da qual participou (2%).

Foi indagado aos brasileiros que nunca participaram de alguma instituição ou campanha como voluntário se já tiveram vontade de fazê-lo. As opiniões se dividem: 52% dizem que nunca tiveram vontade e 48% que já tiveram vontade de trabalhar voluntariamente.

A vontade de participar é mais forte entre os brasileiros com curso superior (67%), renda familiar entre 10 e 20 salários mínimos (63%), que pertencem às classes A e B (60%), com idade entre 25 e 34 anos (57%), do sexo feminino, que moram na região sudeste e em cidades localizadas em regiões metropolitanas (53% em cada um desses segmentos).

Alguns dos trabalhos citados pelos entrevistados que disseram já ter sentido vontade de trabalhar como voluntário foram, entre outros, atividades educacionais ou em escolas (19%), em hospitais e postos de saúde (18%), trabalhos com pessoas carentes de maneira geral (14%) e com crianças de rua (12%), doação de alimentos, bens ou dinheiro (11%), trabalho em creches, com idosos (8%, cada) e com deficientes físicos (3%).

A grande maioria (86%) dos entrevistados que afirmam ter sentido vontade de trabalhar como voluntário não procuraram colocar esse desejo em prática, tentando participar de alguma instituição ou campanha; 14% tentaram, mas não conseguiram trabalhar voluntariamente.

O principal motivo citado pelos entrevistados que nunca tiveram vontade de trabalhar como voluntário foi a falta de tempo, mencionado por 32%. Dizem que lhe faltam atributos para ser voluntário 17%, não sabem o que é trabalho voluntário ou como participar 16% e alegam desinteresse 14%. Outros motivos citados foram o fato do trabalho não ser remunerado (5%), falta de oportunidade (4%) e o fato de nunca ter sido convidado para participar (2%).

Para 35%, o principal retorno que uma pessoa obtém quando realiza um trabalho voluntário é ajudar o Brasil; 33% afirmam que o principal retorno obtido é a gratificação pessoal. Vêm a seguir conhecer outras pessoas (11%), prestígio (6%), ocupar o tempo (4%) e mudar a rotina (3%).

A opinião de que o principal retorno obtido com a realização de trabalho voluntário é a gratificação pessoal chega a 71% entre os brasileiros com nível superior de escolaridade, a 67% entre os que têm renda familiar superior a 20 salários mínimos mensais, a 61% entre os que fazem parte das classes A e B e a 57% entre os espíritas.

Entre os que participam atualmente de alguma instituição ou campanha, 49% dizem que a gratificação pessoal é o principal retorno obtido. Essa opinião também fica acima da média entre os brasileiros que moram na região Sul do país (45%) e nas cidades localizadas em regiões metropolitanas (40%) e entre os que têm idade entre 25 e 34 anos (38%).

A opinião de que ajudar o Brasil é o principal retorno obtido com a participação em um trabalho voluntário chega a 47% entre os que têm entre 16 e 24 anos, a 44% entre os moradores do Nordeste, a 41% entre os que fazem parte das classes D e E - percentual idêntico ao verificado entre os evangélicos pentecostais.

Metade (51%) dos brasileiros afirma que acredita muito nas entidades que utilizam o serviço de voluntários. Dizem acreditar um pouco nessas entidades 38%. Não acreditam nessas instituições 5%, taxa similar à dos que não souberam responder (6%).

Entre os que participam atualmente de alguma instituição ou campanha chega a 70% a taxa dos que dizem acreditar muito nessas entidades. Essa opinião também fica acima da média entre os espíritas (68%), os que têm nível superior de escolaridade (63%), têm renda familiar mensal superior a 20 salários mínimos (62%), pertencem às classes A e B (60%) e têm entre 16 e 24 anos (56%). Entre os espíritas, chega a 68% a taxa dos que dizem acreditar muito nessas entidades.

Os brasileiros depositam maior confiança em iniciativas envolvendo trabalho voluntário promovido por igrejas do que naquelas patrocinadas por empresas ou pelo governo.

A maioria (59%) diz confiar muito em projetos de trabalho voluntário promovido por igrejas. Além disso, um terço (30%), diz confiar um pouco nas iniciativas promovidas pelas igrejas. Dizem não confiar em projetos desenvolvidos por igrejas 8%. Entre os evangélicos não pentecostais, 66% dizem confiar muito em projetos desenvolvidos por igrejas; entre os pentecostais 64% têm essa opinião. Entre os católicos, a taxa dos que dizem acreditar muito é idêntica à verificada para o total da amostra, 59%. Já entre os espíritas, a confiança no trabalho voluntário promovido pelas igrejas é menor: 44% dizem confiar muito, 40% confiam um pouco e 14% (taxa seis pontos acima da média) dizem não confiar.

Em relação a projetos de trabalho voluntário promovidos por empresas, 32% afirmam confiar muito e 47% um pouco; 15% dizem não confiar. Já no que diz respeito a trabalho voluntário promovido pelo governo, 26% afirmam confiar muito e 47% um pouco. Dizem não confiar 22%.

Maioria acha que brasileiros fazem menos do que deveriam

A maioria (69%) dos entrevistados acha que os brasileiros, de uma maneira geral, fazem menos do que deveriam para ajudar os que precisam. Para 14% a população brasileira faz o que deveria para ajudar os necessitados - taxa idêntica à dos que dizem que os brasileiros fazem mais do que deveriam para ajudar os que precisam.

Entre os que participam de instituições ou campanhas que promovem trabalho voluntário atualmente, 54% afirmam que fazem menos do que deveriam para ajudar os que precisam, 38% dizem que fazem o que deveriam e 8% (cinco pontos percentuais abaixo da média) que fazem mais do que deveriam.

Quando indagados sobre si próprios, 52% dizem que fazem menos do que deveriam para ajudar os que precisam, 33% dizem que fazem o que deveriam e 13% acham que fazem mais do que deveriam pelos necessitados.

A maioria dos brasileiros afirma estar disposta a trabalhar como voluntário, fazer doações em dinheiro ou de outro tipo.

Do total de entrevistados, 41% se dizem muito e 34% um pouco dispostos a trabalhar como voluntários. São 21% os que se dizem nada dispostos a isso.

O percentual de entrevistados que se dizem muito dispostos a trabalhar como voluntário chega a 73% entre os que atualmente já participam de entidades que promovem esse tipo de atividade é de 58% entre os que já participaram mas não participaram mais. Essa opinião também é verificada com maior frequência entre os espíritas (58%), os que têm nível superior de escolaridade (51%), pertencem às classes A e B (47%) e têm 16 e 24 anos de idade (45%).

Os brasileiros que se dizem nada dispostos a trabalhar como voluntário são, especialmente os que têm 60 anos ou mais (44% deles) e pertencem às classes D ou E (25%), moram na região Nordeste e têm renda familiar superior a 20 salários mínimos mensais (24% em cada segmento).

Afirmam que estariam muito dispostos a doar coisas 44%, enquanto 41% se dizem um pouco dispostos a isso. Não estariam dispostos a contribuir com doações 12%.

A disposição para doar coisas é maior entre os espíritas (69%), entre os brasileiros com renda familiar mensal entre 10 e 20 (62%) e superior a 20 salários mínimos (60%), aqueles com nível superior de escolaridade (55%), na faixa dos 16 a 24 anos (53%) e as mulheres (48%). Fazer doações em dinheiro é a hipótese que encontra maior resistência: 40% se dizem nada dispostos a contribuir dessa maneira. Se declaram um pouco dispostos 39%, e muito dispostos 17% dos entrevistados.

Afirmam com maior frequência que estariam muito dispostos a fazer doações em dinheiro especialmente os moradores da região Nordeste (23%), aqueles com idade entre 16 e 24 anos, os evangélicos pentecostais (22% em cada segmento) e os não pentecostais (20%).

Indagados sobre o que acham mais importante, doar coisas, fazer doações em dinheiro ou trabalhar como voluntário, a maioria (60%) optou pelo trabalho voluntário. Percentual semelhante (58%) diz que doar coisas ou dinheiro não substitui o trabalho voluntário.

Cerca de um terço (28%) acha que doar coisas é a mais importante das três possibilidades e 8% preferem fazer doações em dinheiro.

Para 33% doar coisas ou dinheiro substitui o trabalho voluntário.

Os entrevistados foram solicitados a demonstrar seu grau de concordância com algumas frases relacionadas ao trabalho voluntário. A maioria discorda totalmente das ideias de que só os ricos deveriam trabalhar como voluntários (58% discordam totalmente e 20% discordam em parte), de que o trabalho voluntário é para quem não tem nada importante para fazer (57% discordam totalmente e 15% em parte) e de as pessoas não devem fazer trabalho voluntário para ajudar os que precisam, pois isso é uma obrigação do governo (51% discordam totalmente e 18% discordam em parte).