Após denúncias, aprovação a Lula é de 38%,

DE SÃO PAULO

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A primeira pesquisa realizada pelo Datafolha após a divulgação de fita gravada em 2002, na qual o ex-assessor da Casa Civil, Waldomiro Diniz, aparece negociando contribuições para campanhas políticas e propina com o empresário do ramo de bingos, Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira, em troca de favorecimento em licitação pública, mostra as consequências do caso para a imagem do presidente Lula e de seu governo.

Em relação ao último levantamento, realizado em dezembro de 2003, a aprovação a Lula passou de 42% para 38%. O percentual dos que consideram o desempenho do presidente regular oscilou de 41% para 43%, e a taxa dos que o reprovam foi de 15% para 17%. Tais números significam a menor taxa de aprovação e a maior de reprovação registradas desde o início do governo petista.

De um modo geral, os brasileiros mais escolarizados e com maior renda são os mais críticos em relação ao petista.

Mas a pesquisa também mostra que nem o desempenho pessoal do petista nem a expectativa de um bom desempenho daqui para a frente sofreram maior desgaste. Além disso, a maior parcela de responsabilidade pelo caso Waldomiro Diniz é atribuída ao ministro José Dirceu, e não ao presidente.

Foram ouvidos 2306 brasileiros, em 132 cidades de todas as unidades da Federação nesta segunda-feira, 1º de março de 2004.

A maior perda de prestígio do presidente se deu entre os brasileiros com renda familiar mensal superior a dez salários mínimos. Neste segmento, a taxa de aprovação a Lula caiu dez pontos percentuais, passando de 43% para 33%. Já a taxa de reprovação aumentou 11 pontos, indo de 17% para 28%.

Entre os brasileiros com nível superior de escolaridade, a aprovação ao presidente foi de 40% para 34%. Nas cidades localizadas nas regiões metropolitanas, 31% aprovam o desempenho de Lula, hoje. Em dezembro, eram 37%. Na região Sul, o percentual dos que consideram o governo ótimo ou bom passou de 44% para 38%.

A avaliação do desempenho pessoal do presidente, porém, permanece estável: 60% consideram-no ótimo, 28% regular e 9% ruim ou péssimo. Em outubro de 2003, essas taxas eram de, respectivamente, 60%, 31% e 6%.

Entre os que tomaram conhecimento do caso Waldomiro Diniz, a aprovação ao presidente é de 33% (cinco pontos abaixo da média). Entre os que se dizem bem informados sobre o caso, essa taxa é ainda menor (28%), enquanto a reprovação chega a 30%, 13 pontos acima da média. Já entre os que não tomaram conhecimento do caso a aprovação a Lula é de 43% (cinco pontos acima da média), e a reprovação é de 15%.

No que diz respeito à avaliação pessoal do presidente, o contraste é menor. Entre os que tomaram conhecimento do caso Waldomiro Diniz, 60% aprovam o desempenho pessoal de Lula, taxa idêntica à registrada entre o total de entrevistados e à verificada entre os que dizem não ter tomado conhecimento do caso. Entre os que se dizem bem informados sobre as denúncias, a taxa de aprovação a Lula é de 55%, e a reprovação chega a 16%.

A nota média atribuída ao presidente, em uma escala que vai de zero a dez, é 6,3.

Para 18% Lula merece nota cinco, 11% atribuem a ele a nota máxima e 6% a nota mínima.

A pesquisa mostra que a expectativa quanto ao desempenho futuro do presidente e a comparação com o governo de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, não sofreram alterações significativas.

Para 65% o presidente terá, daqui para a frente, um desempenho ótimo ou bom; em dezembro, 63% pensavam assim. Na opinião de 17% ele será regular (eram 23% em dezembro) e para 10% ruim ou péssimo (taxa que era de 9% na pesquisa anterior).

Na opinião de 53%, Lula está fazendo um governo melhor do que Fernando Henrique Cardoso. Em dezembro, 51% tinham essa opinião.

Para 28% Lula está fazendo um governo igual (eram 31% no levantamento anterior) e para 16% ele vem fazendo uma administração pior (eram 15% em dezembro).

*Para 51%, José Dirceu sabia de irregularidades cometidas por ex-assessor
43% acreditam em envolvimento de ministro*

A maioria dos brasileiros (58%) acredita que o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, flagrado em um ato irregular cometido em 2002, cometeu irregularidades também enquanto trabalhava no Planalto, já sob o governo petista. Essa taxa chega a 81% entre os que tomaram conhecimento do caso e se dizem bem informados a respeito. Para 13%, Waldomiro Diniz não cometeu irregularidades durante o governo Lula e cerca de um terço (29%) não sabe dizer se Waldomiro cometeu ou não irregularidades enquanto ocupava cargo de assessor da Casa Civil.

Para 51%, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, sabia das irregularidades cometidas por seu ex-assessor, e 43% acreditam que ele está envolvido nessas irregularidades.

Por outro lado, a maior parte dos entrevistados não acredita que o presidente Lula tenha tomado conhecimento (61%), nem que esteja envolvido nessas irregularidades (71%).

O afastamento temporário do ministro José Dirceu, durante as investigações das denúncias contra seu ex-assessor, é defendido por 43% dos entrevistados. Para 24% ele deveria renunciar. Acham que ele deveria permanecer no cargo 18%.

Os números são semelhantes quando se indaga qual deveria ser a atitude do presidente Lula em relação ao caso: para 45% o presidente deveria determinar o afastamento de Dirceu durante as investigações, 23% acham que ele deveria demitir o ministro e 18% defendem sua permanência no cargo.

Nunca ouviram falar em Waldomiro Diniz 53%; já ouviram falar do ex-assessor do ministro José Dirceu 47%.

Entre os que declaram já ter ouvido falar em Waldomiro Diniz, no entanto, 44% não sabem dizer de quem se trata. Ele é descrito como uma pessoa envolvida com corrupção por 22%. Destes, 9% fazem menções a corrupção com bingos. Dizem que se trata de um ex-assessor do ministro José Dirceu ou da Casa Civil 9% - taxa que chega a 29% entre os que se dizem bem informados sobre o caso. Para 8%, trata-se de um ex-assessor do governo Lula, sem mencionar o ministro José Dirceu nem o ministério no qual ele trabalhava; percentual idêntico menciona Waldomiro como pessoa envolvida com bingos e caça-níqueis. Referem-se ao ex-assessor mencionando sua passagem pela Loterj 4%.

As acusações contra Waldomiro Diniz são de conhecimento de 53% dos brasileiros. Destes, 6% se dizem bem informados, 26% mais ou menos informados e 20% mal informados sobre o caso.

Para 38% o governo vem tendo um desempenho ótimo ou bom no que diz respeito ao caso Waldomiro Diniz. Acham que esse desempenho vem sendo regular 29%, e ruim ou péssimo 14%. Não souberam responder à questão 19%.

A maioria dos brasileiros defende a convocação de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) para investigações sobre o caso Waldomiro Diniz, irregularidades nos bingos e em arrecadação de recursos para campanhas eleitorais. São a favor de uma CPI para o caso Waldomiro Diniz 81%. Essa taxa é de 83% no que diz respeito a irregularidades nos bingos e de 80% em relação à arrecadação de dinheiro para as campanhas eleitorais de todos os partidos políticos.

Apesar da maioria (58%) acreditar que Waldomiro Diniz cometia irregularidades enquanto ocupava cargo no Planalto, já sob o governo Lula, percentual menor (32%) dos brasileiros acredita que existem casos de corrupção na administração petista. Para 42% não existe corrupção no governo Lula. Não sabem responder à indagação 26%.

Entre os brasileiros com nível superior de escolaridade e entre aqueles que têm renda familiar mensal superior a dez salários mínimos a taxa dos que acreditam que existe corrupção no governo Lula chega a 60%. Entre os que tomaram conhecimento do caso Waldomiro, 43% afirmam que existe corrupção no governo Federal.

Entre os que acreditam na existência de corrupção no governo Federal, 32% atribuem ao presidente muita responsabilidade por esse fato. Para 44% desses entrevistados, o presidente tem um pouco de responsabilidade, e para 20% ele não tem nenhuma responsabilidade por esses casos de corrupção.

Nesse aspecto, Lula se sai melhor do que o seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Duas pesquisas realizadas pelo Datafolha, nos anos de 2001 e 2002, mostraram que a maioria dos brasileiros acreditava na existência de corrupção no governo do peessedebista.

Em março de 2001, 71% achavam que existia corrupção no governo Federal; em maio de 2002, 69% acreditavam nisso.

As duas pesquisas foram realizadas em momentos particularmente delicados para o governo de Fernando Henrique Cardoso: em 2001, o governo havia rompido uma aliança com o senador Antonio Carlos Magalhães, que, após o rompimento, fez uma série de acusações sobre supostos casos de corrupção no governo; em 2002, o governo estava sob o impacto de denúncia de que o economista Ricardo Sérgio de Oliveira teria pedido propina ao empresário Benjamim Steinbruch durante a privatização da Companhia Vale do Rio Doce, fato a respeito do qual o presidente teria sido alertado.

Imagem do PT como partido com maioria de políticos honestos sofre desgaste

A pesquisa mostra que o PT continua sendo, entre quatro dos principais partidos do país, aquele com a imagem de ser aquele que tem entre seus integrantes mais políticos honestos do que seus adversários. No entanto, essa imagem sofreu um ligeiro desgaste.

Em julho de 2002, quando o partido foi surpreendido por denúncias de cobrança de propina a empresários de ônibus que tinham contrato com a prefeitura de Santo André, durante a administração do petista Celso Daniel, 19% acreditavam que a maioria dos políticos ligados ao PT estariam envolvidos em corrupção. Esse percentual, hoje, se mantém inalterado. A taxa dos que acham que muitos políticos petistas estão envolvidos em corrupção, embora não se trate da maioria deles, no entanto, subiu de 24% para 29%, enquanto a dos que acreditam que é raro o envolvimento de políticos deste partido em casos de corrupção caiu de 32% para 28%.

Por outro lado, a percepção do envolvimento de políticos do PFL, do PMDB e do PSDB, também teve ligeiro aumento. O percentual dos que acham que há muitos políticos do PFL envolvidos em corrupção, embora não sejam a maioria no partido, passou de 29% para 32%. Essa taxa foi de 31% para 34%, no que diz respeito aos políticos do PMDB, e de 29% para 33% no que concerne aos peessedebistas.

46% se dizem contra e 44% a favor do funcionamento de bingos

Os brasileiros se mostram divididos quando indagados sobre a existência de casas de bingo no país: 46% se dizem contra o funcionamento legal desses estabelecimentos, enquanto 44% se declaram a favor. Como a margem de erro máxima para a pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, tal resultado significa um empate.

Entre os que admitem já ter visitado uma casa de bingo, 69% são a favor do funcionamento desses estabelecimentos. A posição favorável ao funcionamento dos bingos chega a 56% entre os brasileiros com renda familiar mensal superior a dez salários mínimos e a 53% entre os que têm nível superior de escolaridade.

Nesses segmentos, a propósito, o percentual de entrevistados que admitem já ter visitado bingos fica acima da média, sendo de 24% entre os que têm maior renda e de 21% entre os mais escolarizados, contra os 15% registrados entre o total de brasileiros.

Mas a pesquisa também mostra que a maioria (68%) dos brasileiros acha que o presidente Lula agiu bem ao determinar a proibição do funcionamento de bingos e de máquinas caça-níqueis. Para 26% o presidente agiu mal ao tomar tal medida.

Entre os que declaram já ter visitado uma casa de bingo, 42% acham que o presidente agiu mal. Compartilham essa opinião 38% dos brasileiros com renda familiar mensal superior a dez salários mínimos e 36% dos que têm nível superior de escolaridade.

*Imagem do presidente Lula segue positiva, mas enfrenta desgaste
Menos brasileiros acreditam que presidente trabalha muito, respeita mais os pobres, é sincero e decido*

Após um ano e três de governo, a imagem pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua positiva; no entanto, ela já foi melhor.

O percentual dos que acreditam que o presidente trabalha muito, que era de 70% após três meses de governo, caiu para 65% após dez meses, em outubro de 2003, e chega agora a 55%. Já a taxa dos que afirmam que o presidente trabalha pouco subiu de 21% em março para 28% em outubro de 2003 e chega agora a 36%.

Para 59% o presidente respeita mais os pobres; eram 70% após três meses e 66% após dez meses de governo. Hoje, 21% acham que ele respeita mais os ricos. A taxa dos que acham Lula decidido é de 65%. Após três meses essa taxa era de 76%, tendo caído para 72% após dez meses no cargo. A percepção de que o presidente é uma pessoa sincera, que havia se mantido inalterada até o décimo mês de governo, também diminuiu. Hoje, 73% têm essa opinião, contra 80% em outubro e 81% em março do ano passado. Outros atributos sofreram variações menos significativas. Para 86%, Lula é uma pessoa simpática e para 85% ele é humilde; 71% acham que ele é uma pessoa moderna, 65%, consideram-no muito inteligente e 63% acham que ele é democrático.