Aprovação a Lula cresce oito pontos percentuais. Avaliação é parecida com a que o presidente tinha no início da crise do "mensalão"

DE SÃO PAULO

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Após atravessar o ano de 2005 vendo sua popularidade em queda constante, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começa 2006 com seu prestígio dando indícios de recuperação. Pesquisa realizada pelo Datafolha em todo o país nos dias 1 e 2 de fevereiro mostra que a aprovação ao presidente cresceu oito pontos percentuais em relação a dezembro do ano passado: a taxa dos que consideram o presidente ótimo ou bom passou de 28% para 36%. Já a taxa dos que reprovam o desempenho do petista, ou seja, acham que ele está fazendo um governo ruim ou péssimo, caiu seis pontos, de 29% para 23%. A taxa dos que classificam o desempenho de Lula como regular oscilou dentro da margem de erro, de dois pontos percentuais, passando de 41% para 39%.

Lula, no entanto, obtém índices mais modestos do que os verificados durante a maior parte da primeira metade de seu mandato. Após três meses de governo, no início de abril de 2003, o presidente era aprovado por 43% dos brasileiros, considerado regular por 40% e reprovado por apenas 10%. A taxa de aprovação se manteve em torno dos 40% até dezembro de 2003, tendo atingido seu pico em agosto daquele ano, chegando a 45%. Em março de 2004, após escândalo que envolveu Waldomiro Diniz, subordinado do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, em pedido de propinas a empresários, teve início uma tendência de queda na popularidade do presidente, que passou de 42% em dezembro de 2003 para 38% naquele mês e para 35% em agosto. A reprovação atingiu, nas duas pesquisas, taxa recorde de 17%.

Em dezembro de 2004 o presidente se recuperou, voltando aos patamares do primeiro ano de mandato. Naquela ocasião, o petista obtinha a aprovação de 45%, era considerado regular por 40% e reprovado por apenas 13% dos brasileiros. Essa recuperação encontrava respaldo em um ambiente econômico favorável, com a divulgação de vários indicadores positivos, e que se refletia em um otimismo inédito registrado pelo Datafolha na mesma pesquisa: para 65% dos brasileiros, sua situação econômica pessoal iria melhorar nos meses seguintes, taxa que era nove pontos superior à registrada em outubro de 2003, e a maior já verificada até então ao longo do governo Lula.

Seis meses depois, no início de junho de 2005, no início da segunda metade de seu mandato, o Datafolha mostrava nova queda na popularidade do presidente: a aprovação havia diminuído dez pontos percentuais, recuando para 35%, enquanto a reprovação aumentara cinco pontos, chegando a 18%. A taxa dos que consideravam Lula regular foi, então, a 45%. Naquele momento começavam a surgir denúncias de corrupção contra o governo e a oposição procurava instalar uma CPI para investigar irregularidades nos Correios. A pesquisa mostrava que a insatisfação com o governo Lula tinha aumentado principalmente entre os brasileiros com renda familiar mensal acima de 10 salários mínimos e entre os que têm escolaridade superior.

A primeira pesquisa realizada após entrevista do ex-deputado Roberto Jefferson à Folha de S. Paulo, na qual ele revelava suposto pagamento de mesada feito pelo governo a deputados, esquema que viria a ser conhecido como "mensalão", e dois dias após o depoimento de Jefferson na Câmara sobre o caso, mostrava estabilidade na imagem do governo. Segundo o levantamento, de 16 de junho, o desempenho do presidente era considerado ótimo ou bom por 36%, regular por 44% e ruim ou péssimo por 19% dos brasileiros.

Pouco mais de um mês depois do início das acusações contra o governo, porém, foi registrada a maior reprovação ao desempenho do petista, que chegou a 23% segundo pesquisa realizada no dia 21 de julho. Àquela altura, a crise provocada pelas denúncias contra o governo já tinha se tornado mais grave, e vários petistas tinham deixado seus cargos no governo e no partido, entre eles José Dirceu, que ocupava o ministério da Casa Civil, e José Genoíno, que era o presidente do PT. O levantamento mostrava estabilidade na aprovação ao presidente, que oscilara para 35%, e um recuo de quatro pontos no percentual dos que consideravam Lula regular, que atingia 40%. Essas taxas são praticamente idênticas às verificadas hoje.

A aprovação a Lula cairia para 31% em agosto e para 28% em outubro, taxa que se manteria em dezembro. Já a reprovação foi a 26% em agosto, a 28% em outubro e chegou a 29% em dezembro.

A nota média atribuída ao presidente, em uma escala de zero a dez, é hoje 5,9. Maior do que a verificada em dezembro (5,4), mas longe da que obtinha após três meses no cargo (6,8), sua melhor marca até o momento.

A avaliação do presidente Lula melhorou significativamente nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde a aprovação aumentou 12 pontos percentuais (de 26% para 38%), enquanto a reprovação caiu 10 pontos (de 32% para 22%). A região Sul continua sendo a que concentra maior percentual de brasileiros críticos ao presidente. A taxa de aprovação a Lula nessa região, porém, aumentou oito pontos percentuais em relação ao levantamento anterior (de 19% para 27%), enquanto a reprovação caiu sete pontos (de 39% para 32%). No Sudeste, a aprovação passou de 27% para 33%, enquanto a reprovação foi de 31% para 25%. O prestígio do petista continua sendo maior no Nordeste, onde sua aprovação é hoje de 44%, taxa sete pontos superior à verificada em dezembro.

Lula também recuperou pontos entre os mais pobres e os menos escolarizados. Entre os que têm renda familiar mensal até cinco salários mínimos, a taxa dos que consideram o desempenho do presidente ótimo ou bom subiu de 29% em dezembro para 38% hoje, enquanto a dos que definem o governo como ruim ou péssimo caiu de 28% para 21% no período. Entre os que têm ensino fundamental a taxa dos que aprovam Lula foi de 31% para 40%, e a dos que o reprovam caiu de 29% para 20%.

O percentual de brasileiras que aprova o presidente hoje é de 36%, dez pontos maior do que a verificada no levantamento anterior (26%), taxa idêntica à verificada entre os homens (era de 30% em dezembro).

Quando se leva em consideração a idade dos entrevistados, verifica-se que Lula recuperou pontos principalmente entre os que têm de 35 a 44 anos, tendo passado, nesse segmento, de 29% para 41% a taxa dos que consideram seu desempenho ótimo ou bom, um aumento de 12 pontos percentuais. A reprovação ao presidente caiu dez pontos percentuais nesse estrato, de 29% para 19%.

A pesquisa também investigou a avaliação que os brasileiros fazem do governo Lula nas áreas econômica e social. O desempenho do presidente na área econômica é aprovado por 38%, considerado regular por 40% e reprovado por 19%. A atuação do governo na área social recebe a aprovação de 36%, é classificado como regular por 39% e reprovado por 21%.

Embora a aprovação geral ao governo tenha melhorado, a maioria dos brasileiros continua acreditando na existência de corrupção. O percentual de brasileiros que acreditam na existência de corrupção no governo Lula se mantém estável: 82% creem nessa hipótese, ante 81% que pensavam assim em outubro do ano passado. Entre os que acreditam na existência de corrupção no governo, 35% acham que o presidente tem muita responsabilidade, 50% atribuem a ele um pouco de responsabilidade e 13% o isentam de qualquer responsabilidade nesses casos. Em relação à pesquisa anterior, essas taxas variaram dentro da margem de erro da pesquisa (eram de, respectivamente, 35%, 50% e 13%).