Aumenta apoio de brasileiros à pena de morte

DE SÃO PAULO

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No momento em que a violência assumiu o primeiro lugar como principal problema do país na opinião dos brasileiros, aumentou o apoio à instituição da pena de morte, segundo pesquisa realizada pelo Datafolha em todo o país. Se houvesse uma consulta à população, 55% votariam a favor da adoção da pena capital, taxa quatro pontos percentuais superior à verificada em agosto de 2006 (51%). A taxa dos que votariam contra a adoção dessa medida oscilou de 42% para 40%. Os indiferentes à questão somam 2%, mesmo percentual registrado no levantamento anterior, e a taxa dos que não souberam opinar oscilou de 5% para 3%.

A opinião favorável à que a pena de morte seja adotada no país, hoje, repete recorde ao que se verificava em meados dos anos 90. Em fevereiro de 1993 o percentual de brasileiros que votariam a favor da pena capital era idêntico ao de hoje. Em março de 1995, tinha oscilado para 54%. Cinco anos depois, em junho de 2000, novo levantamento sobre o tema registrou uma queda, para 48%. Esse percentual voltou a subir em fevereiro de 2002, atingindo 51% e, desde então, e até hoje, vinha oscilando dentro da margem de erro adotada nas pesquisas nacionais do Datafolha, de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

O Datafolha ouviu 5700 brasileiros, a partir de 16 anos, em 236 municípios, nos dias 19 de 20 de março de 2007.

Nessa mesma pesquisa, 31% dos entrevistados apontaram espontaneamente a violência como principal problema do país, que tomou o lugar do desemprego nesse ranking. Além disso, a segurança assumiu o primeiro lugar como a área de pior desempenho do governo Lula, sendo citada por 25% dos entrevistados.

Essas alterações nas preocupações dos brasileiros, assim como o aumento na defesa da pena de morte, ocorrem após uma série de casos de intensa repercussão. Entre esses, um dos mais trágicos, o do menino de 6 anos de idade que morreu ao ser arrastado por 7 km, preso ao cinto de segurança de um carro roubado por criminosos, no Rio de Janeiro, fato que causou comoção nacional. Também podem ser lembradas a atuação de milícias no Rio, casos de balas perdidas, onda de assaltos a banco em São Paulo e o brutal estupro e assassinato de uma menina de 1 ano e 7 meses, que foi jogada em uma pia batismal em uma Igreja Adventista, em Joinville.

Vale destacar que a onda de ataques do PPC no Estado de São Paulo, em maio de 2006, que deixou centenas de mortos e espalhou um clima de terror de proporções inéditas, aparentemente não influenciou a opinião dos brasileiros sobre a pena de morte naquele momento. Pesquisa realizada nos dias 23 e 24 daquele mês mostrava que 49% eram a favor que a pena capital fosse instituída no Brasil, uma oscilação positiva de um ponto percentual em relação a levantamento de dezembro de 2003, quando 50% eram favoráveis à medida.

Naquela ocasião, a posição favorável à pena de morte no Estado de São Paulo era de 51%. Em agosto, ela oscilou para 52%. Hoje, chega a 57%, tornando o Estado, de três nos quais é possível fazer uma análise em separado dos resultados, aquele no qual se registra a maior taxa de apoio à pena de morte, embora dentro da média nacional.

A maior variação, de 2006 para hoje, se deu no Estado do Rio de Janeiro. Em maio do ano passado, a maioria (55%) dos moradores do Estado era contra a pena de morte, em posição inversa à do país como um todo; 38% eram a favor. Em agosto, a posição favorável subiu para 45%, mas continuava inferior à taxa dos que eram contrários (51%). Hoje, a taxa de fluminenses favoráveis à pena capital está seis pontos maior do que na última pesquisa, chegando a 51%, e, agora, eles pensam de maneira semelhante aos brasileiros em geral.

Os mineiros se dividiam quando indagados sobre o tema nas pesquisas realizadas em maio e agosto do ano passado. Os percentuais de entrevistados a favor e contra a pena de morte se repetiram em ambos os levantamentos realizados em Minas Gerais: 45% e 46%, respectivamente. Hoje, 51% são a favor e 43% contra.

Regionalmente, é no Sul que se registra a maior taxa de apoio à adoção da pena de morte. Entre os moradores dessa região, 66% votariam a favor, taxa nove pontos maior do que a registrada em agosto do ano passado, e 11 pontos superior à média nacional. No Sudeste a posição a favor da pena capital subiu cinco pontos percentuais em relação à pesquisa anterior, passando de 49% para 54%. Nas regiões Norte e Centro-Oeste o aumento foi de quatro pontos percentuais (de 53% para 57%). Os nordestinos se dividem quanto ao assunto, e, na contramão do resto do país, a taxa dos que são contrários à pena de morte subiu cinco pontos percentuais, passando de 42% para 47%, enquanto a dos que são favoráveis oscilou um ponto para baixo, de 49% para 48%.

Variação significativa também se deu entre os brasileiros com renda familiar mensal acima de dez salários mínimos. Em maio do ano passado, ocorria um empate, levando-se em consideração a margem de erro: 49% deles eram a favor e 46% eram contra a pena de morte. Em agosto, a taxa de apoio à essa medida subiu para 51%. Hoje, ela está 13 pontos maior do que no levantamento anterior, chegando a 64%. No outro extremo da segmentação por renda, aquele dos que ganham até dois salários mínimos, a variação do ano passado para hoje foi pequena, se comparada à verificada entre os brasileiros que ganham mais. Em maio do ano passado também ocorria empate (47% a favor, 45% contra a pena de morte). Em agosto, 50% dos brasileiros de menor renda passaram a apoiar a prática e, hoje, essa taxa é de 52% nesse segmento.

Entre os brasileiros com nível superior de escolaridade, que, em sua maior parte, se posicionavam contra a pena de morte nas duas pesquisas realizadas no ano passado, 50% votariam a favor, hoje, taxa seis pontos superior à registrada no levantamento anterior, embora ainda cinco pontos abaixo da média nacional. Votariam contra 46%, taxa cinco pontos inferior à verificada na última pesquisa, e seis pontos acima da média.

Aqueles com escolaridade fundamental e média opinam de maneira semelhante à média da população: são favoráveis 54% dos menos escolarizados (quatro pontos a mais do que em agosto de 2006) e 56% dos que têm escolaridade média (três pontos a mais do que na pesquisa anterior).

Entre os homens, o apoio à pena de morte (60%) é 11 pontos superior do que o registrado entre as mulheres (49%).

Levando-se em consideração o partido de preferência declarado pelo entrevistado, verifica-se que a defesa da adoção da pena de morte fica acima da média entre os simpatizantes do PSDB (64%), do ex-PFL, hoje Democratas (62%) e do PMDB (60%). Os simpatizantes do PT se posicionam como a média da população: caso fossem consultados sobre o tema, 55% votariam a favor e 42% contra a medida.

Entre os católicos a taxa dos que votariam a favor da instituição da pena capital chega a 59%, taxa quatro pontos acima da média nacional e próxima às verificadas entre os umbandistas (57%) e entre os que não têm religião (58%). Entre os evangélicos não pentecostais a posição contrária à pena de morte fica 16 pontos acima da média, chegando a 56%; entre os pentecostais essa taxa é de 51% (11 pontos superior à média). Também votariam contra a maior parte dos espíritas (52%) e a maioria dos adeptos do candomblé (55%).

Maioria dos brasileiros não quer mudanças em lei que regulamenta aborto

A maioria (65%) dos brasileiros acha que a lei que regulamenta o aborto atualmente deve continuar como está, segundo pesquisa realizada pelo Datafolha em todo o país. São a favor que o aborto seja permitido em mais situações 16%, e são favoráveis a que o aborto deixe de ser crime em qualquer caso 10%.

Em relação a pesquisa anterior sobre o tema, realizada em agosto de 2006, foram registradas apenas oscilações dentro da margem de erro, de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Naquela ocasião, 63% eram contra mudanças na lei, 17% eram favoráveis a que o aborto fosse permitido em mais situações e 11% opinavam que o melhor seria que o aborto deixasse de ser crime em qualquer caso.

Foram entrevistados 5700 brasileiros, a partir de 16 anos, em 236 municípios, nos dias 19 de 20 de março de 2007.

Mulheres e homens pensam de maneira semelhante sobre o assunto: 64% deles e 66% delas acham que a lei não deve ser modificada. A idade também não faz diferença na hora de opinar, e o percentual dos que são contra a ampliação das situações em que o aborto seria permitido é idêntico entre os brasileiros que têm de 16 a 24 anos e aqueles que estão na faixa etária acima de 60 anos (67% em ambos os segmentos).

Quando os resultados são observados levando-se em consideração escolaridade e renda familiar mensal, porém, ocorrem contrastes. Quanto mais escolarizado o entrevistado e maior sua renda, maior a simpatia pelo abrandamento do rigor da lei.

O percentual dos que acham que a lei deve continuar como está é de 68% entre os que têm escolaridade fundamental e de 64% entre os que têm escolaridade média. Já entre os que têm escolaridade superior, 55% são contra modificações na lei (10 pontos percentuais abaixo da média) e 28% defendem que o aborto seja permitido em mais situações (12 pontos acima da média). A taxa dos que defendem que o aborto deixe de ser crime em qualquer situação (12%) fica dentro da média.

Entre os que têm renda familiar mensal até dois salários mínimos 67% acham que a lei deve continuar como está. Essa taxa é de 66% entre os que têm renda na faixa de dois a cinco salários mínimos e cai para 58% entre aqueles com rendimentos entre cinco e dez salários mínimos. No segmento com renda acima de dez salários mínimos, 54% acham que a lei deve continuar como está (11 pontos percentuais abaixo da média nacional), 28% são favoráveis a que se permita o aborto em mais situações (12 pontos acima da média) e 14% pensam que a interrupção da gravidez não deve ser considerada crime em hipótese alguma (quatro pontos acima da média).

O Rio de Janeiro é, de três estados nos quais é possível fazer uma análise em separado dos resultados, o mais liberal em relação ao aborto: 54% dos entrevistados no Estado acham que a lei deve continuar como é hoje (11 pontos abaixo da média), 24% são a favor que o aborto seja legalizado em mais situações (oito pontos acima da média) e 16% acham que a prática não deve ser considerada crime em caso algum (seis pontos acima da média).

No estado de São Paulo a taxa dos que rejeitam alterações na lei fica cinco pontos acima da média, atingindo 70%. Em Minas Gerais, ela é de 67%, dentro da média nacional.

Na região Sul, a taxa dos que são favoráveis a que o aborto seja permitido em mais situações chega a 21%, cinco pontos acima da média.

No que diz respeito à religião dos entrevistados, 65% dos católicos e percentual idêntico de evangélicos não pentecostais acham que a lei deve continuar como está. Entre os pentecostais essa taxa é de 70%. Também acham que a lei deve ficar como está a maior parte dos espíritas (61%), dos adeptos do candomblé (55%) e dos que não têm religião (56%). Note-se, porém, que as taxas de entrevistados que pensam dessa maneira verificados nesses segmentos ficam abaixo da média nacional.

Entre os umbandistas verificam-se os maiores contrastes: 44% deles são a favor que a lei continue como está (21 pontos abaixo da média), 25% acham que o aborto deve ser permitido em mais situações (nove pontos acima da média) e para 20% a prática deve deixar de ser crime em qualquer caso (o dobro da média).

57% dos brasileiros são contra a eutanásia

A eutanásia, isto é, o ato que apressa a morte de um doente incurável, é rejeitada por 57% dos brasileiros. São a favor da prática 36%.

A posição favorável à eutanásia é maior entre os brasileiros mais escolarizados e com maior renda familiar mensal. Entre os que têm escolaridade fundamental, 60% são contra a prática. Já entre os que têm escolaridade superior, 49% são a favor (13 pontos percentuais acima da média nacional) e 44% se posicionam de maneira contrária (13 pontos abaixo da média). Entre os que ganham até dois salários mínimos, 63% rejeitam a eutanásia; entre os que têm renda superior a dez salários, 52% são a favor (16 pontos acima da média) e 38% são contra (19 pontos abaixo da média).

No que diz respeito à região na qual moram os entrevistados, verificam-se contrastes significativos no Sul, onde a taxa de apoio à eutanásia é oito pontos maior do que a média nacional, chegando a 44%, e no Nordeste, onde 63% são contra a prática, marca seis pontos superior à registrada nacionalmente.

Entre os católicos, 56% são contra e 37% são a favor da eutanásia. Os evangélicos são os que mais rejeitam a ideia: são contra a eutanásia 68% dos pentecostais e 64% dos não pentecostais.

Entre os que não têm religião 47% apoiam a eutanásia, ante 44% que a rejeitam, divisão parecida com a que ocorre entre os umbandistas, segmento no qual 45% são favoráveis e 48% são contrários. Posicionam-se contra a eutanásia 50% dos espíritas (taxa sete pontos abaixo da média) e 51% dos adeptos do candomblé (seis pontos abaixo da média).

São Paulo, 5 de abril de 2007.