Hospitalidade do povo é o que o país tem de melhor, segundo turistas; pobreza é o aspecto mais negativo

DE SÃO PAULO

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Os turistas estrangeiros que vieram para a Copa do Mundo no Brasil são, em sua maioria, homens, com grau superior de ensino e jovens, que visitaram pela primeira vez o país, mostra o perfil registrado pelo Datafolha em pesquisa junto a 2209 estrangeiros de mais de 60 países nos aeroportos de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, e em Fanfests e locais de grande concentração de público nas cidades de Belo Horizonte, Salvador e Fortaleza, além de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. As entrevistas foram feitas em inglês e espanhol entre os dias 1º e 11 de julho. Esse universo não representa, portanto, a totalidade de estrangeiros presentes no país. Além do pesquisar o perfil deste público, o Datafolha também os consultou suas impressões sobre o Brasil, de forma geral, e sobre a organização e estrutura da Copa do Mundo, e o resultado é positivo tanto para o país quanto para o evento.

A ampla maioria (88%) dos turistas da Copa é do sexo masculino, com idade média de 33 anos (64% tinham até 34 anos), e 81% têm grau superior de ensino (outros 12% têm grau médio de ensino, e 7%, escolaridade básica). Uma parcela de 84% trabalha, e 11% são estudantes.

Os argentinos foram os mais presentes: um em cada quatro (26%) vieram do país vizinho ao Brasil. Em seguida aparecem Estados Unidos (11%), Colômbia (10%), Inglaterra (6%), Alemanha (5%), França (4%), Chile (4%), México (4%), Austrália (4%), Canadá (2%) e Peru (2%), entre outros com menor percentual de presença.

Para os turistas que visitaram o Brasil para a Copa, a hospitalidade, simpatia e amabilidade é o que o país tem de melhor é o seu povo: 42% citaram espontaneamente as pessoas e características relacionadas a elas após serem questionados sobre o assunto. As belezas naturais e locais turísticos foram indicadas espontaneamente por 19% como o que o Brasil tem de melhor, com destaque para aspectos relacionados às praias (14%). A beleza das mulheres foi citada por (11%). O clima é o melhor do Brasil para 7%, enquanto o futebol é mencionado por 3%. Entre os que vieram da Argentina, o índice dos que citam as pessoas fica abaixo da média (35%), e ficam acima da média às menções às belezas naturais e locais turísticas (29%). Na parcela dos ingleses, 14% citaram clima, o dobro da média.

O Datafolha também realizou consulta espontânea junto aos estrangeiros sobre o que o Brasil tem de pior, e o tema mais citado por eles (segundo a opinião de 18%) está relacionado à pobreza, desigualdade social, favelas e moradores de rua (entre os turistas da Austrália, esse índice chega a 27%). Uma parcela similar (16%) indicou a falta de segurança, criminalidade ou violência no pais (entre os que vieram da Alemanha, 27%), e em seguida aparecem o trânsito e tráfego (8%); o preço alto, custo de vida, preço caro de produtos (7%, sendo que alcança 22% entre os turistas da Colômbia); a dificuldade de comunicação por causa do idioma, o fato de poucos brasileiros falarem outro idioma (5%, alcançando 11% entre os turistas da França e Canadá); a sujeira ou cheiro ruim nas praias e vias públicas (3%); a falta de estrutura e quantidades de obras inacabadas (2%); a qualidade da comida (2%); e a desordem e desorganização de forma geral (2%), entre outros aspectos citados. Para 10%, não há nada de pior há ser destacado no Brasil.

Entre os turistas que visitaram o país para a Copa do Mundo, 12% já moraram no Brasil alguma vez, e 61% visitaram o país pela primeira vez. Na fatia de turistas argentinos e chilenos, a maioria (67% e 60%, respectivamente) já havia visitado o Brasil outras vezes. Em média, os turistas que não faziam sua primeira viagem já haviam visitado o país 4 vezes. Questionados se gostariam de morar no Brasil, 69% responderam positivamente.

A maioria (90%) acompanhou notícias sobre o Brasil antes de viajar para a Copa do Mundo, sendo que 50% receberam notícias majoritariamente negativas, e outros 40% tiveram notícias na maior parte positivas sobre o país. Entre os que vieram da Colômbia, a maioria (61%) recebeu notícias em sua maior parte positivas, único país onde isto aconteceu. Na parcela dos que vieram da Inglaterra foi registrado o maior índice 67% de recepção de notícias na maior parte negativas no período pré-Copa. .

Até o momento em que foram entrevistados, os turistas haviam permanecido, em média, 16 dias no Brasil, sendo que 32% estavam há mais de 20 dias no país.

Seis em cada dez turistas (59%) viajaram para a Copa do Mundo junto com amigos, a companhia mais frequente. Um em cada cinco (21%) turistas viajou sozinho, 13% foram acompanhados por namoradas, namorados, esposas ou maridos, e 5% tinham como companhia os filhos. Entre as mulheres, 37% tinham a companhia de amigos, e 39% estavam acompanhadas de namorados ou maridos. Na fatia de turistas alemães, franceses, australianos e americanos, verificou-se maior tendência de viajar sozinho, enquanto entre os originários da Argentina foi mais frequente a companhia de amigos (69% viajaram dessa forma). Na fatia dos que vieram da Colômbia para ver o Mundial, ficou acima da média (em 31%) a companhia de namoradas, namorados, esposas ou maridos.

O meio de transporte mais utilizado para a viagem ao Brasil foi o avião (87%), seguido por carros de passeio (6%) e ônibus internacional convencional (5%), entre outros. Entre os que vieram da Argentina, a fatia dos que chegaram de carro de passeio é mais alta (20%).

Os hotéis foram o tipo de acomodação mais utilizada pelos estrangeiros: 53% ficou pelo menos uma vez em um hotel durante a estadia no Brasil. Um em cada quatro (25%) se hospedaram em hostels e albergues, 17% se acomodaram em casas de parentes e amigos, e 11% em casas e apartamentos (sem especificar tipo de serviço pago), e 7%, em casas ou apartamentos alugados para temporada. Há ainda 2% que ficaram em campings ou acampamentos privados, e 2% que ficaram em campings ou acampamentos públicos ou cedidos por governos locais. Entre chilenos, australianos e ingleses, destaca-se o índice dos que se hospedaram em hostels ou albergues (38%, 37% e 33%, respectivamente). Na parcela de argentinos, apenas 41% se hospedaram em hotéis, e 9% ficaram em campings ou acampamentos (públicos ou privados). A taxa dos que citaram especificamente o aluguel de parte da casa por meio de serviços como o Airbnb ficou em 4% entre americanos, ingleses, franceses e alemães, ante 1% na média geral. Na fatia de mexicanos, 9% vieram em cruzeiros, ante 1% de forma geral.

A imagem do Brasil na visão dos estrangeiros é positiva em alguns aspectos em que eles estiveram em contato, como transporte e segurança, e regular em outros, como custo de vida e sistema de comunicação. É alta, no entanto, a fatia de desconhecimento sobre alguns dos itens avaliados pelos turistas, como sistema de saúde e sistema educacional.

Considerada ótima ou boa por 72%, a segurança pessoal obteve a imagem mais positiva entre os aspectos consultados, em patamar similar ao registrado pelo sistema de transporte (69%). A segurança também foi considerada regular por 19%, enquanto 6% a avaliaram como ruim ou péssima, e 2% não souberam opinar. No caso do transporte, 17% o avaliaram como regular, 9%, como ruim ou péssimo, e 5% não opinaram. As menores taxas de avaliação positiva sobre a segurança pessoal foram registradas entre australianos (56%) e alemães (59%), e as maiores, entre colombianos (81%), argentinos (81%) e chilenos (79%). Tendência similar é verificada na análise do sistema de transporte.

Também aprovados pela maioria dos turistas, mas com índices menores, aparecem a qualidade do meio ambiente nas cidades (visto por 58% como ótimo ou bom, por 25% como regular, e por 11% como ruim ou péssimo, além dos 6% que não opinaram); a preservação ambiental de forma geral (ótima ou boa para 58%, regular para 20%, e ruim ou péssima para 9%, além dos 13% sem opinião sobre o assunto); a democracia racial (vista como ótima ou boa por 58%, como regular para 11%, e ruim ou péssima para 6%, além dos 25% que não responderam sobre o tema); e o desenvolvimento tecnológico (avaliado por 56% como ótimo ou bom, como regular por 24%, e como ruim ou péssimo por 7%, além dos 13% que não opinaram). As condições de moradia no Brasil foram vistas como ótimas ou boas por 52%. Outros 24% avaliaram esse aspecto como regular, 11%, como ruim ou péssimo, e 14% não opinaram.

O serviço de comunicação no Brasil, incluindo telefonia e internet, foi avaliado como ótimo ou bom por 41%, como regular por 21%, e como ruim ou péssimo 17%. A taxa dos que não opinaram sobre esse aspecto alcança 21%. O custo de vida obtém uma avaliação positiva ainda menor: 29% consideraram esse aspecto ótimo ou bom, e outros 29%, como ruim ou péssimo. Uma fatia de 32% avaliou o custo de vida como regular, e 10% não opinaram. A maior taxa de avaliação negativa foi registrada entre colombianos (45%) e mexicanos (36%). Essa avaliação negativa também ficou acima da média entre os que avaliaram a organização da Copa como ruim ou péssima (48%) ou regular (36%). Entre ingleses (41%) e franceses (44%), o custo de vida teve avaliação positiva acima da média.

A estabilidade econômica do Brasil é vista positivamente por 30%, e como regular por 24%. Uma fatia de 10% considerou esse aspecto ruim ou péssimo no país, e 35% não opinaram. Os vizinhos da Colômbia e Argentina tem uma avaliação positiva acima da média sobre a estabilidade econômica do Brasil (41% e 38%, respectivamente).

O sistema de saúde brasileiro foi avaliado como ótimo ou bom por 15%, regular por 7%, e ruim ou péssimo por outros 7%. A maioria (71%), no entanto, não soube avaliar esse aspecto do país. O mesmo ocorreu com o sistema educacional (71% não souberam opinar, enquanto 13% o consideraram ótimo ou bom) e com a competência do governo federal (58% não souberam avaliar, e 20% viram esse aspecto como ótimo ou bom).