44% dos evangélicos são ex-católicos

DE SÃO PAULO

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Três em cada dez (29%) brasileiros com 16 anos ou mais atualmente são evangélicos, dividindo-se entre aqueles que podem ser classificados como evangélicos pentecostais (22%), em maior número e frequentadores de igrejas como Assembleia de Deus, Universal do Reino de Deus, Congregação Cristã e Quadrangular do Reino de Deus, e 7%, como evangélicos não pentecostais, pertencentes a igrejas como Batista, Presbiteriana e Metodista, entre outras. Esse segmento evangélico fica abaixo do formado por católicos (50%), e ainda há 14% sem religião, 2% de espíritas, kardecistas e espiritualistas, 1% de umbandistas, 1% de praticantes do candomblé, 1% de ateus e 2% de outras religiões. Desde a década de 90, quando o Datafolha iniciou sua série histórica de consultas sobre o tema, esse quadro tem se alterado, com a diminuição na diferença dos índices de católicos e evangélicos e, mais recentemente, o aumento no número de brasileiros sem religião.

Em agosto de 1994, quatro em cada dez (75%) dos brasileiros com 16 anos ou mais eram católicos, 10%, evangélicos pentecostais, 4%, evangélicos não pentecostais, outros 4%, espíritas, e 5%, sem religião. Passados pouco mais de dez anos, em outubro de 2005, a parcela de católicos havia diminuído para 66%, e a de evangélicos pentecostais, crescido para 14%. Além disso, os não pentecostais eram 7%, os espíritas, 3%, e os sem religião, 7%. Em julho de 2015, os católicos representavam 55% da população adulta brasileira, e os evangélicos pentecostais, 22%. Os evangélicos não pentecostais somavam 8%, os espíritas, 3%, e os sem religião, 7%. A comparação dessa evolução com o quadro atual mostra uma continuidade na queda no percentual de católicos,porém, desta vez, com uma migração mais intensa para os declarantes de sem religião, grupo que dobrou sua representatividade na população (neste segmento, 33% têm entre 16 e 24 anos).

Os evangélicos, considerando pentecostais e não pentecostais, tem idade média de 37 anos, ante 40 dos brasileiros. Uma parcela de 34% tem escolaridade fundamental (entre os brasileiros, 35%), e 51% estudaram até o ensino médio (ante 45% entre os brasileiros), o que faz com que uma parcela menor deles (de 15%) tenha chegado ao ensino superior (na população brasileira, 20%). Metade (49%) dos evangélicos estão na região Sudeste (ante 43% da população), 23%, no Nordeste (na população, 27%), 10%, no Norte (ante 8% dos brasileiros), 9%, no Sul (ante 15% dos brasileiros) e outros 9%, na região Centro Oeste (no Brasil, 8%).

A parcela com renda familiar mensal de até 2 salários mínimos representa 53% dos evangélicos, ante 49% entre os brasileiros. Uma fatia de 33% tem renda entre 2 e 5 salários (no Brasil, 36%), e 9% obtém mais do que 5 salários (na população são 10%).

Dos que se declaram evangélicos, 34% pertencem atualmente à Assembleia de Deus, e num patamar abaixo aparecem, na sequência, Igreja Batista (11%), Universal do Reino de Deus (8%), Congregação Cristã no Brasil (6%), Quadrangular (5%), Deus é Amor (3%), Adventista (3%), Presbiteriana (2%), Internacional da Graça de Deus (2%), Mundial do Poder de Deus (2%), entre outras menos citadas.

Cerca de metade (48%) dos evangélicos não teve outra religião ao longo da vida, e 44% deles já foram católicos. Há também aqueles que já foram de outras denominações evangélicas, pentecostais (1%) ou não pentecostais (4%), e os que já foram espíritas (2%), umbandistas (1%), e praticantes do candomblé (1%), entre outras menos citadas. Na fatia dos católicos, 90% nunca tiveram outra religião.

Os evangélicos também foram consultados sobre outras igrejas evangélicas que frequentaram ao longo da vida, e 18% mencionaram a Assembleia de Deus. Em seguia aparecem Batista (13%), Universal (7%), Deus é Amor (7%), Quadrangular (6%), Congregação Cristã (4%), Presbiteriana (4%), Adventistas (3%) e Mundial do Poder de Deus (1%), entre outras com menor percentual.

O movimento de migração de religião entre os evangélicos, principalmente de origem católica, fica mais evidente quando se compara o tempo de ligação com a igreja atual. Em média, os evangélicos frequentam sua igreja atual há 12 anos (para uma idade média de 37 anos), enquanto os católicos estão ligados à sua igreja há, em média, 32 anos (eles têm, em média, 42 anos, e 11% do segmento não frequenta cultos religiosos).

45% dos evangélicos discordam de que todas as religiões têm mesmo valor

Consultados sobre o que sua religião tem de melhor, 18% dos evangélicos mencionaram espontaneamente a fé (em Deus ou Jesus), 12%, os ensinamentos da Bíblia e da igreja, 5%, a palavra de Deus, 4%, a solidariedade, união e igualdade entre as pessoas, 3%, os projetos sociais, o amor a Deus e ao próximo, 3%, os conselhos sobre vícios e condutas, e 3%, tudo, entre outros. Na parcela de católicos, 14% mencionam a fé, 9%, o livre arbítrio, liberdade e flexibilidade, 6%, os ensinamentos da Bíblia e da igreja, 5%, a solidariedade, união e igualdade entre as pessoas, e 5%, nada, o fato de ser igual às outras, não ter nada de especial, entre outras respostas menos citadas. A parcela dos que não souberam apontar o que sua religião tem de melhor fica em 14%
entre os católicos, ante 4% no segmento evangélico.

De 0 a 10, a fé em Deus tem 9,9 de importância na vida dos evangélicos, e 9,8 na de católicos.

Semelhantes na avaliação da importância da fé, os dois segmentos têm visão diferente sobre as religiões em geral. Dos brasileiros que declaram ter religião, 70% concordam que "todas as religiões tem o mesmo valor porque todas levam ao mesmo Deus", sendo que 54% concordam totalmente com a frase, e 14%, em parte. Na fatia de católicos, a taxa de concordância vai a 81% (64% totalmente, e 17%, em parte), e os demais não concordam nem discordam (2%), discordam (7% totalmente, 8%, em parte) e há 1% que não opinou. Entre os evangélicos, metade (50%) concorda com a frase (sendo 36% totalmente, e 14%, em parte), 4% não concordam nem discordam e 45% discordam (31% totalmente, e 14%, em parte) e 1% não opinou.

De forma geral, os evangélicos veem um grau de afinidade menor entre os valores de outras religiões e sua crença. Para medir esse grau de afinidade, os entrevistados foram consultados se os valores de outras religiões eram totalmente iguais, na maior parte iguais, na maior parte diferentes ou totalmente diferentes do que aqueles em que eles têm fé.

O Cristianismo (identificado dessa forma, sem detalhar doutrinas específicas) é visto como aquele em que as crenças mais combinam, em geral: entre os que declaram ter religião, 60% veem valores totalmente ou na maior parte iguais, os demais identificam valores totalmente ou em parte diferentes (18%), ou não souberam opinar (22%). Na parcela de evangélicos, esses índices ficam em 58%, 23%, e 19%, respectivamente, e entre os católicos, 61%, 15% e 24%.

Candomblé e Umbanda, entre as consultadas, são as religiões em que tanto religiosos em geral quanto evangélicos em particular identificam menor afinidade de valores. No caso da primeira, por exemplo, 16% dos que declaram religião veem valores totalmente ou na maior parte iguais, 48%, totalmente ou na maior parte diferentes, e há 36% que não souberam opinar. Entre os católicos, a taxa dos que acreditam que os valores em que acreditam e os valores do candomblé são iguais fica em 18%, ante 7% entre os evangélicos. A taxa dos que veem valores diferentes, entre os católicos, é de 42%, e sobe para 62%
entre os evangélicos.

Religiosos ou não, brasileiros atribuem sucesso financeiro, primeiramente, a Deus

Entre uma série de questões sobre aspectos religiosos, a que conta com maior respaldo tanto de evangélicos quanto católicos diz respeito à criação: 98% dos evangélicos concorda, totalmente (93%) ou em parte (5%), que o homem é uma criação de Deus, que o construiu a sua imagem e semelhança; entre católicos, 94% concordam (83% totalmente, 11%, em parte). A avaliação de que "todo o sucesso financeiro da minha eu devo, em primeiro lugar, a Deus" é respaldada por 97% dos evangélicos, incluindo os que concordam totalmente com a afirmação (89%) e os que concordam em parte (7%). No segmento católico da população, 91% concordam com essa questão (78% totalmente, 13%, em parte).

A afirmação de que "aqueles que creem em Deus, quando morrerem, irão para o céu e terão uma vida eterna" tem a concordância de 87% dos evangélicos, sendo que 72% concordam totalmente com ela, e 15%, em parte. Entre os católicos, esses índices ficam em 61% e 19%, respectivamente. Com apoio similar, entre os evangélicos, está a avaliação de que "o fim do mundo está próximo e somente aqueles que acreditarem em Deus irão se salvar", com a qual 83% concordam (67% totalmente, e 16%, em parte). Na porção católica da população, 58% concordam com a afirmação, incluindo os que concordam totalmente (41%) e os que concordam em parte (16%).

Para 28% dos evangélicos, "as pessoas pobres, em geral, não tem fé em Deus, e por isso não conseguem sair dessa situação", sendo que 20% deles concordam totalmente com essa afirmação, e 8%, em parte. Entre os católicos, 15% concordam totalmente, e 7%, em parte.

Católicos e evangélicos divergem sobre a adoção por casal gay e concordam sobre crime em aborto

A maioria (71%) dos evangélicos acredita que deveria haver uma lei para quem intimidar, constranger ou agredir homossexuais, índice próximo ao verificado entre a população em geral (76%) e católicos (77%). Para 22%, não deveria haver uma lei com esse propósito, e 7% não opinaram.

Quando o assunto é a legalização da união entre pessoas do mesmo sexo, porém, a maioria (68%) dos evangélicos adota posição contrária, e 19%, a favor, além de 10% que são indiferentes e 3% que não opinaram. Na população brasileira, 44% são a favor da legalização da união de homossexuais, 42%, contra,
11%, indiferentes, e 3% não opinaram.

A adoção de crianças por um casal gay é rejeitada por 64% dos evangélicos, e 26% são a favor de que isso ocorra. Há ainda 7% de evangélicos que são indiferentes, e 3% que não opinaram. Entre os católicos, 56% são a favor de casais gays adotarem crianças, e 33% são contra. Na população brasileira, 49% são a favor, e 40%, contra.

Questionados se uma mulher que interrompe uma gravidez deveria ou não ser processada e ir para a cadeia, 64% dos evangélicos responderam positivamente, e 23% se colocaram contra essa possibilidade, além de 12% que são indiferentes. Entre os católicos, a taxa de apoio à proposta fica em 58% (com 29% contra e 14% indiferentes), e entre os brasileiros, em 56% (30% são contra, e 14%, indiferentes).

A opinião de católicos e evangélicos converge quanto à presença da religião nas escolas. Para 85% de ambos os segmentos as escolas deveriam ensinar as crianças a rezar e acreditar em Deus. Na população brasileira, 79% são a favor.