O bloqueio do registro da candidatura do ex-presidente Lula (PT), o início do horário eleitoral na TV e o atentado contra Jair Bolsonaro (PSL), na última semana, trouxeram uma nova dinâmica à disputa presidencial deste ano, que agora tem o capitão reformado do Exército na liderança isolada, com o dobro de intenções de voto do adversário mais próximo, e seus quatro principais concorrentes embolados na disputa pelo 2º lugar.
Na comparação com pesquisa realizada pelo Datafolha entre 20 e 21 de agosto, antes do horário eleitoral, Bolsonaro oscilou dois pontos, de 22% para 24%, e sua adversária mais próxima até então, Marina Silva (Rede), caiu de 16% para 11%. A ex-senadora do Acre agora aparece empatada com Ciro Gomes (PDT), que saiu de 10% para 13%, com Alckmin (PSDB), que oscilou de 9% para 10%, e no limite da margem de erro, com Fernando Haddad (PT), que cresceu de 4% para 9%.
A disputa traz ainda Alvaro Dias (PODE), Henrique Meirelles (MDB) e João Amoêdo com 3% cada, e Vera (PSTU), Guilherme Boulos (PSOL), e Cabo Daciolo (PATRI), com 1% cada, além de Eymael (DC) e João Goulart Filho (PPL), que não pontuaram. A taxa dos que pretendem votar em branco ou nulo caiu de 22% para 15% desde a segunda quinzena de agosto, e a de indecisos ficou estável (oscilou de 6% para 7%).
No total, foram ouvidos 2.804 eleitores em 197 municípios brasileiros. A margem de erro para o total da amostra é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
Essa é a primeira pesquisa realizada sem a presença do ex-presidente Lula, que liderava a disputa quando seu nome era testado como candidato, e teve as entrevistas realizadas em 10 de setembro, quatro dias após o atentado contra Jair Bolsonaro em Juiz de Fora (MG). Dessa forma, reflete tanto a cobertura da cassação do registro da candidatura de Lula, decidida pela Justiça Eleitoral em 31 de agosto, quanto os reflexos do ataque ao candidato do PSL. Além disso, é o primeiro levantamento do Datafolha a captar os efeitos do horário eleitoral na TV e no rádio na corrida pela Presidência da República.
Protagonista da campanha do PT ao lado de Lula, que está preso em Curitiba, Haddad ganhou pontos em quase todos os segmentos do eleitorado, com destaque para o avanço entre os mais pobres, de 3% para 10%, no Nordeste, de 5% para 13%, e na região Sul, de 2% para 8%. Entre os nordestinos, o petista agora empata com Bolsonaro (que se manteve com 14%) e Marina (que caiu de 19% para 11%), e fica numericamente atrás de Ciro, que também avançou na região (de 14% para 20%).
A candidatura de Marina apresentou quedas mais significativas entre as mulheres (de 19% para 12%), na faixa de idade de 45 a 59 anos (de 15% para 7%), no eleitorado de renda mais baixa (de 19% para 13%) e na região Norte (de 23% para 13%), além do Nordeste.
Bolsonaro cresceu oito pontos na faixa de 45 a 59 anos (de 17% para 25%), seis pontos entre quem tem renda familiar de 5 a 10 salários (de 32% para 38%) e cinco pontos no Sudeste (de 22% para 27%). Dessa forma, tem como eleitorado de destaque os segmentos de renda mais alta (acima de 5 salários de renda familiar), os mais escolarizados (30% entre quem tem curso superior, ante 14% de Ciro, o rival mais próximo) e os homens (com 32%, ante 17% entre as mulheres), além de não liderar somente no Nordeste.
Os eleitores brasileiros também foram consultados sobre seu grau de decisão em relação ao voto declarado para presidente, e a maioria (55%) dos que apontaram algum candidato, voto em branco ou voto nulo já está totalmente decidida sobre essa opção. Os demais (45%) ainda podem mudar seu voto. Os apoiadores de Bolsonaro são os mais convictos (74% estão totalmente decididos sobre seu voto), e na sequência aparecem os eleitores de Haddad (67%), Amoêdo (53%), Dias (43%), Ciro (42%), Meirelles (35%) e Marina (29%), Ou seja, dentre os quatro empatados pelo segundo lugar na disputa presidencial, somente Haddad tem mais da metade de eleitores decididos sobre seu voto, enquanto Marina tem o maior percentual (71%) de eleitores em dúvida. Entre quem declara voto em branco ou nulo, 65% estão totalmente convictos sobre essa decisão.
Na pesquisa espontânea, quando os nomes dos candidatos não são apresentados aos eleitores, a queda de 20% para 9% nas menções a Lula mostra que pelo menos metade do seu eleitorado já assimilou a cassação de sua candidatura. O ex-presidente, contudo, segue sendo o candidato mais citado espontaneamente no Nordeste (16%, ante 12% de Bolsonaro). entre os mais pobres (13%, ante 12% do PSL) e na parcela de menor escolaridade (13%, contra 10% de Bolsonaro).
No conjunto do eleitorado, o presidenciável do PSL lidera na intenção de voto espontânea com 20%, cinco a pontos a mais do que na segunda quinzena de agosto, quanto tinha 15%. Esse movimento, mais elástico do que o crescimento na intenção de voto estimulada no deputado, de dois pontos percentuais, mostra que a grande exposição de seu nome nos últimos dias teve como maior efeito a consolidação de seu nome junto a seus eleitores, que superou o ganho de novos eleitores.
Também houve evolução, neste intervalo, das menções às candidaturas de Ciro (de 2% para 5%) e Haddad (menos de 1% para 4%), e o quadro mostra também oscilação dentro da margem de erro ou estabilidade nas citações a Alckmin (de 2% para 3%), Amoedo (de 1% para 2%), Marina (2%), Alvaro Dias (1%) e Meirelles (1%). Os demais não pontuaram, há que 37% não souberam apontar nenhum nome (eram 41% em agosto) e 12% declaram voto em branco ou nulo (eram 14%).