Para moradores de Altamira, Belo Monte trouxe renda e problemas

DE SÃO PAULO

A construção da usina Belo Monte levou oportunidades de emprego a Altamira, cidade que abriga o canteiro da obra, mas as consequências negativas também foram sentidas pela população, com o aumento da violência em destaque.

O saldo da megaobra, por enquanto, divide os moradores da cidade: a parcela dos que acreditam que a situação de Altamira estará melhor depois das obras da usina é igual a dos que creem que estará pior.

A opinião pública sobre esses e outros assuntos foi consultada pelo Instituto Datafolha entre os dias 30 de outubro e 5 de novembro de 2013. No total, foram ouvidas 435 pessoas, que representam o conjunto de moradores de Altamira com 16 anos ou mais. A margem de erro da pesquisa é de 5 pontos percentuais, para mais ou para menos, considerando os resultados para o total da amostra.

Opinião sobre Belo Monte

A maioria (57%) dos moradores de Altamira é a favor da construção da usina de Belo Monte, apoio que fica acima da média entre os homens (66%) e abaixo da média entre as mulheres (47%). São contra a usina 27%, e 14% afirmar ser indiferentes. Entre os que nasceram em Altamira, a resistência a Belo Monte fica acima da média (36%), tendência oposta à verificada entre os que vieram de fora (20%).

Citados por dois em cada três moradores (66%), os principais aspectos positivos levados pelas obras de Belo Monte estão relacionados à geração de empregos.
Também são ligados à usina aspectos positivos como desenvolvimento e progresso da cidade (15%); desenvolvimento e atração de empresas e setores empresarias (11%); desenvolvimento econômico de forma geral (8%), melhorias na educação (5%); melhorias na pavimentação (3%), melhorias na saúde (3%); e melhorias no saneamento básico (2%), entre outros.

Há ainda 14% que afirmam que as obras de Belo Monte não possuem pontos positivos.

Os principais aspectos negativos da construção da hidrelétrica, segundo os moradores de Altamira, são: aumento da violência e da criminalidade (citados por 39%); problemas relacionados ao trânsito, como congestionamentos, aumento do número de acidentes e imprudência (20%); questões ligadas ao meio ambiente, como destruição da natureza e poluição de rios (15%); aumento de preços e do custo de vida (14%); crescimento populacional (11%); falta de infraestrutura (8%); problemas ligados à área da saúde, como piora do atendimento e falta de médicos (8%); e problemas de moradia, como alagamento de casas e retirada de pessoas (7%).

Um balanço feito pelos moradores a respeito das obras da usina mostra que é maior a percepção de que a obra irá trazer mais benefícios pessoais do que para os moradores de Altamira. Para 51%, a construção de Belo Monte trará mais benefícios do que prejuízos para si, e 39% pensam o contrário, que haverá mais prejuízos do que benefícios. Uma fatia de 9% não soube opinar. Em relação ao conjunto de moradores de Altamira, 52% acreditam que eles são mais prejudicados do que beneficiados, e 41%, mais beneficiados do que prejudicados.

Os problemas de Altamira

Os principais problemas do município de Altamira, atualmente, são os mesmos apontados como fatores negativos das obras da usina: insegurança e trânsito, em primeiro lugar, com destaque também para aspectos relacionados a aumento do custo de vida, agravamento de problemas de saúde, falta de infraestrutura, alta no custo de vida, entre outros apontados pelos moradores.

Um em cada quatro (25%) residentes de Altamira aponta espontaneamente a insegurança (falta de segurança, aumento de criminalidade, crescimento do número de homicídios e assaltos etc) como o principal problema do município. Em seguida, com destaque, aparecem trânsito (congestionamento, falta de estrutura, imprudência, aumento do número de acidentes etc), com 14%; saneamento (falta de água, de água tratada, de esgoto etc), com 12%; saúde (piora na saúde, falta de atendimento, médicos etc), com 10%; falta de infraestrutura, de forma geral, com 8%; e crescimento populacional, com 7%, entre outros problemas

Os moradores também puderam apontar outros problemas de Altamira, além do principal. Nesse caso, as respostas espontâneas foram somadas, e o resultado mostra que a insegurança é vista como um problema por 52% da população. Problemas com saneamento são apontados por 38%, em patamar próximo aos problemas com trânsito (33%) e saúde (31%). Também se destacam problemas relacionados à falta de energia (24%), pavimentação (15%), educação (13%), falta de infraestrutura (13%), entre outros.

Trabalhadores da obra de Belo Monte

Além dos moradores de Altamira, o Datafolha também consultou os trabalhadores de Belo Monte sobre assuntos relacionados às obras da usina e à cidade de
Altamira. No total, foram ouvidos 246 trabalhadores, 98% deles homens, a maioria (59%) com nível médio de escolaridade. Outros 39% estudaram até o ensino
fundamental, e só 2% cursaram nível superior.

Metade (49%) dos trabalhadores se declara pardos, e os demais se dividem entre pretos ou negros (20%), brancos (15%), morenos (7%), amarelos (4%) e indígenas (4%). Em relação à idade, 23% têm entre 16 e 24 anos, 41%, de 25 a 34 anos, e 36%, 35 anos ou mais.

Têm renda mensal de até 2 salários mínimos 28% desses trabalhadores, enquanto 35% recebem entre 2 e 3 salários, outros 26%, de 3 a 5 salários, e 11%, mais de 5 salários. Para este módulo da pesquisa, a margem de erro é de 6 pontos percentuais para mais ou para menos.

De forma geral, a maioria (88%) dos trabalhadores é a favor da construção de Belo Monte, enquanto 6% são contra, e 6% são indiferentes ou não têm opinião.

Para 68% deles, a geração de empregos é o principal ponto positivo da obra. Os funcionários de Belo Monte também destacam fatores empresariais e setoriais (27% deles, que citam desenvolvimento do setor de energia, fonte de energia confiável etc); avanço e melhorias na infraestrutura de Altamira (22%); benefícios econômicos (20%, com menções a melhoria de renda, desenvolvimento econômico etc); melhoria na educação (4%); e pavimentação e melhorais de pistas e rodovias (3%), entre outros menos apontados.

Em relação aos pontos negativos, 37% mencionam fatores relacionados ao meio ambiente, como desmatamento, impacto ambiental, destruição da natureza, danos ao ecossistema etc. Aspectos ligados à falta de segurança e aumento da violência foram destacados por 17%.

Em seguida aparecem questões sobre moradia (13%, com destaque para alagamentos, ribeirinhos que ficarão alagados etc); falta de infraestrutura (7%); trânsito (7%), custo de vida, impostos e inflação (7%); crescimento populacional (4%); e invasão de terras indígenas (4%), entre outros. Para 11%, não haverá fatores negativos.

Os dados sobre a pesquisa foram publicados em matéria na Folha, e também fizeram parte do especial multimídia sobre Belo Monte disponível no site da Folha.