Este texto é resultado de uma parceria entre Datafolha e a Codecs, empresa especializada em análise de cenários digitais e reputação
A reeleição de Nicolas Maduro para presidente da Venezuela, no último domingo (28), gerou grande interesse na web brasileira. Foram 2,7 milhões de menções sobre o pleito, nas redes sociais e internet em geral, e as discussões em torno de possível fraude e do status do país como uma ditadura tiveram grande protagonismo sobre a repercussão total. A análise foi feita com base no período entre os dias 28 e 30 de julho.
Em 1,1 milhão de menções, termos como fraude, manipulação e ditadura foram associados à disputa, o equivalente a 41% de toda a discussão. É um percentual significativo, já que muitas menções não possuem um padrão identificável, ou não se encaixam em temas específicos.
Para o levantamento, foram consideradas as citações, de perfis do Brasil, na internet em geral – o que inclui redes sociais, imprensa, blogs e fóruns na internet. 97% das citações foram feitas nas redes.
Predominaram publicações sobre questionamentos aos resultados, divulgando casos como o da opositora de Maduro, Maria Corina Machado, que disponibilizou supostas atas da votação, de forma online, que mostrariam a vitória de Edmundo González.
As publicações que geraram maior mobilização na web, sobre fraude no pleito, foram de perfis alinhados à direita. São posts em um tom como esse abaixo, de Carla Zambelli, acusando irregularidades no processo eleitoral, e cobrando um posicionamento de Lula sobre o cenário venezuelano – o conteúdo gerou 112 mil interações.
Um dos posicionamentos de destaque veio do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Ao condenar o resultado divulgado, acusou irregularidades e gerou 144 mil interações só no Instagram.
Não há conteúdos defendendo Maduro ou a lisura do pleito entre os que tiveram maior número de curtidas, comentários e compartilhamentos, o que revela que a discussão de impacto ficou restrita, em sua maioria, a críticas sobre o cenário venezuelano.
As posições de entidades e partidos ligados à esquerda no Brasil, reconhecendo a vitória de Maduro, criaram um ambiente em que os principais perfis de direita utilizaram isso para associar correntes progressistas à relativização da ditadura.
Lula, o PT e o MST apareceram em 486,7 mil menções à eleição venezuelana. Novamente, entre os conteúdos de maior engajamento, predominam os negativos a eles. Jair Bolsonaro gerou 213 mil interações em post sobre fala de líder do MST a favor de Maduro – que foi visto 4,7 milhões de vezes. Pablo Marçal publicou vídeo que mostra Lula cumprimentando Maduro – gerou 375 mil interações, e foi visto 8,3 milhões de vezes.
As manifestações em grupos de Telegram bolsonaristas também foram intensas – o assunto foi o maior destaque dos grupos entre os dias 28 e 30, e termos como Venezuela e Maduro apareceram 2.247 vezes em aproximadamente 100 grupos de Telegram observados.
Durante todo o domingo (28), surgiram mensagens como essas abaixo, com denúncias de que "representantes de Maduro" estariam violando as urnas de votação, que locais de votação fecharam "mais cedo do que o normal", além do surgimento de vídeos de protestos dos venezuelanos. Depois da divulgação dos resultados, a repercussão foi similar à registrada na internet em geral, com acusações de fraudes e críticas ao PT e a Lula.