Este texto é resultado de uma parceria entre Datafolha e a Codecs, empresa especializada em análise de cenários digitais e reputação
A desistência de Joe Biden da disputa à reeleição para a presidência dos Estados Unidos gerou 96 mil menções na internet brasileira nas primeiras 24 horas após o anúncio, feito às 14:46 no horário de Brasília. Apesar de fazer disparar o interesse pelo pleito norte-americano, o fato repercutiu menos que o atentado ocorrido contra o ex-presidente Donald Trump, há pouco mais de uma semana.
Nas 24 horas antes de Biden publicar nas redes sobre sua desistência, a mobilização em torno da campanha presidencial norte-americana era bem menor, com cerca de 10 mil menções diárias feitas em português. Após Biden tornar pública sua decisão de abandonar a disputa, o volume cresceu mais de nove vezes.
Em 13 de julho, o atentado contra Donald Trump, em um comício na Pensilvânia, ocorreu às 19h13 no horário de Brasília. Nas primeiras 24 horas após o episódio, foram 107 mil menções na web, número 11% maior do que o registrado na repercussão inicial sobre a saída de Biden da corrida eleitoral.
Essa diferença pode ser parcialmente explicada pela forma como a tentativa de assassinato contra Trump foi usada como argumento de uma perseguição global à direita. 9% de toda a repercussão sobre o ocorrido na Pensilvânia, em perfis brasileiros, mencionavam diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro.
As menções de maior engajamento, ou seja, que mais mobilizaram os internautas (seja com curtidas, comentários ou compartilhamentos), defendiam a mesma tese: de que tanto a facada em Bolsonaro, em 2018; quanto o disparo contra Trump, agora, são exemplos de como "o sistema" quer "matar a direita" e a "liberdade de expressão".
O próprio Bolsonaro publicou vídeo, no dia seguinte ao episódio envolvendo Trump, afirmando que "somente pessoas conservadoras sofrem atentados" – só no Instagram o conteúdo gerou 1.054.567 interações e 12,6 milhões de visualizações.
Eduardo Bolsonaro postou uma montagem que mostra fotos de Jair, atingido em 2018, e Trump, em 2024, em mais um exemplo de como a direita conseguiu pautar o debate. Foram 98 mil interações só no Instagram, numa das citações de maior destaque do período.
No último dia 20, Eduardo voltou a tocar no assunto, com um vídeo, em inglês, em que ele dá "dicas" sobre o que os americanos podem apreender do ataque contra Bolsonaro, em 2018, para "antecipar" os movimentos da esquerda, mais uma mostra de como o ataque contra o ex-presidente norte-americano tem sido explorado pela direita brasileira.
Por outro lado, Jair Bolsonaro foi citado em apenas 1,5% das menções à desistência de Biden, ou seja, não foi um assunto tão explorado politicamente. Na repercussão sobre a desistência do atual presidente no Brasil, há um grande interesse por quem assumirá a vaga pelo lado democrata – a vice-presidente Kamala Harris foi citada em 34% de todas as menções sobre Biden. O nome de Michelle Obama surgiu em 8% das citações.
Também predominaram memes sobre a notícia – como o post da Choquei, que destaca trecho de um episódio antigo da série "Os Simpsons", que mostrava, em sua 11ª temporada, lançada em 2000, a personagem Lisa Simpson se tornando a "1ª mulher heterossexual presidente" dos EUA.
O post da Choquei teve 354 mil interações no Instagram. No X/Twitter, foram 21 mil interações e 716 mil visualizações O episódio foi recuperado por diversas páginas, que tratam o tema como "mais uma previsão" do seriado, conhecido por "acertar" sobre acontecimentos futuros, como a candidatura de Trump em 2016.
A desistência do democrata também rendeu outros memes, como comparações de Biden ao caso do "tio Paulo", homem que aparece morto em uma cadeira de rodas em um vídeo que mostra sua sobrinha tentando adquirir um empréstimo, em seu nome, no banco – esse meme, inclusive, fez sucesso em perfil espanhol do X/Twitter, gerando 3 milhões de visualizações.
Para o levantamento, foram consideradas as menções, de perfis do Brasil, na internet em geral – o que inclui redes sociais, imprensa, blogs e fóruns na internet. 90% das citações foram feitas nas redes.